FOLHA DE SP - 05/05
Os EUA já nos importam tão pouco a ponto de um insulto deles nem merecer atenção dos nossos governos?
Nem foi um qualquer, nem foi em qualquer lugar. John Kerry é o secretário de Estado, substituto de Hilary Clinton no cargo mais estratégico dos Estados Unidos e ex-candidato dos democratas a presidente americano. Foi no Senado do seu país que ele definiu assim os países da América Latina, quando indagado sobre a situação da influência americana por aqui: "É o nosso quintal. A nossa vizinhança". Nenhuma estranheza despontou entre os senadores.
O conceito dispensa comentário, afora talvez para sublinhar sua longevidade na cabeça americana. Mas a ocorrência de uma única reação, entre tantos países, suscita uma questão: os Estados Unidos já nos importam tão pouco a ponto de um insulto feito pelo próprio secretário de Estado nem merecer atenção dos nossos governos?
A América Latina mudou muito nos últimos 12 anos, sim. Mas o Brasil faz clara demonstração de que continuam muitas as forças galináceas, desejosas de voltar a sentir-se no quintal.
A Bolívia preferiu a represália explícita e imediata. Enxotou de lá o pessoal da Usaid, a agência americana que, a pretexto de ajuda, serve de cobertura para preparadores de agitação e de golpes. E de outras generosidades da agência com o quintal: há um punhado de tempo, o documentário "El Vuelo del Condor", por exemplo, comprovou a esterilização em massa de bolivianas, mutiladas quando supunham apenas passar por seu primeiro preventivo do câncer oferecido pela Usaid.
As relações internacionais são tão tresloucadas, que a relativa tranquilidade deixada à América Latina pelos Estados Unidos, desde o primeiro governo de Bush filho, deve muito à derrubada das Torres Gêmeas e às guerras no Iraque e no Afeganistão. Os americanos ficaram ocupados.
O CANDIDATO
No começo da semana, enquanto José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Estado do Rio, confirmava convite de Eduardo Campos para candidatar-se pelo PSB ao governo fluminense, o governador pernambucano negava que o houvesse convidado. Era possível perceber logo quem dizia a verdade.
Depois de renovadas negativas, Eduardo Campos chegou ao final da semana forçado a admitir que conversaram, "inclusive, sobre possibilidade de disputa de eleição no Rio". Deu-se mal em dose dupla: aumentou sua taxa pública de insinceridade e deu uma mancada política. Completou a semana, aliás, com o grande feito, em espetáculo eleitoreiro, de destinar a participação pernambucana no pré-sal a educação, ciência e tecnologia. Só não disse que essa ideia, por sinal discutível, tem outros donos: seus adversários Lula e Dilma.
O FACILITÁRIO
Um dado de Ilimar Franco no "Globo", aqui transcrito para quem acha que a criação de novos partidos deve continuar à vontade como é: "Estão em formação no país 27 partidos, além da Rede, de Marina Silva, e do Solidariedade, do deputado Paulo Pereira da Silva". Entre os 29 figura até a volta da Arena, o partido da ditadura.
BLEFE
A intenção do senador Renan Calheiros de obrigar a TV e a rádio do Senado a transmitirem atividades dos senadores em seus Estados, "para provar que eles não trabalham só três dias", inclui duas trapaças. A primeira: resultará sempre em propaganda eleitoral, paga pela população e sem base legal. A outra: a obrigação dos senadores não é estar nos seus Estados, seja lá para o que for. São eleitos e custam fortunas para estar em Brasília como representantes dos seus Estados. E morando mesmo, que para isso recebem residências ou auxílio moradia.
E, além do mais, não chegam a passar nem três dias lá. Só porque foi feriado na quarta-feira, na quinta apenas cinco senadores foram ao Senado. E, na terça, entre a vadiagem oficiosa da segunda e o feriado da quarta, adivinhe você quantos foram ao Senado. Mas todos receberam por todos os dias.
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