sexta-feira, abril 05, 2013

Seca, garoa e votos - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 05/04


Como seres acostumados a viver o amanhã antes da hora, os políticos se debruçam sobre o mapa do Brasil e as pesquisas qualitativas para avaliar o que precisam trabalhar desde já a fim de garantir um fôlego maior logo ali na frente. O trimestre que passou deixou claro onde cada um joga suas fichas nessa largada antecipada. Dilma Rousseff, no Nordeste. Foi a Pernambuco na semana passada, ao Ceará, na segunda-feira, e passou várias vezes pela Bahia no início do ano. Tudo isso para manter a vantagem que já detém na região e segurar a arrancada do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

O senador Aécio Neves, do PSDB, sedimentado na retaguarda em Minas Gerais, passou o período mergulhado em São Paulo, território que precisa conquistar para largar em condições de concorrer a um segundo turno. Ali também jogou o pernambucano Eduardo Campos, mais dedicado a encontro com empresários e a criar pontes com setores do PSDB, em especial, os adversários de Aécio.
Vejamos primeiro Dilma e o Nordeste. O pacote que a presidente apresentou na região é na medida para angariar apoios e segurar Eduardo Campos. Hoje, o governo tem por ali uma série de obras. Os diversos programas do Ministério da Integração Nacional - administrado pelo PSB, mas sempre com as benesses apresentadas pela presidente Dilma - têm uma meta de, até 2015, ampliar o abastecimento de água em 7 bilhões de metros cúbicos, o que representa tudo o que o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) fez ao longo de sua história na região, à exceção do Ceará, estado que fez mais barragens ao longo do tempo.

Recentemente, a presidente autorizou ainda a Comissão de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) a explorar 20 poços profundos em pontos do semiárido. Esses poços, objeto de cobrança de muitos políticos nordestinos durante décadas, podem resolver problemas da seca em algumas microrregiões, como em Tucano, na Bahia. Até o início do ano eleitoral, o Nordeste terá recebido ainda 470 mil cisternas, sendo que 270 mil já constam como entregues nos dados do governo federal. Ou seja, na avaliação dos petistas, Dilma terá o que mostrar como fruto de seu governo, e que está enfrentando a seca com mão de ferro e muita água. E não pretende deixar que as adutoras e outras obras por ali tenham a fita inaugural cortada somente pelos governadores ou pelo ministro Fernando Bezerra Coelho, aliado de Eduardo Campos. Novas viagens à região serão marcada para muito breve. Afinal, a hora de segurar o Nordeste, avalia o PT, é agora.

Enquanto isso, em São Paulo.
Ali, Dilma não precisa ir todos os dias, porque a briga interna do PSDB e o início da administração do prefeito petista Fernando Haddad, aliado dela, representam um empurrãozinho providencial. Intramuros no PSDB, há quem veja uma certa inclinação do governador tucano Geraldo Alckmin a montar um palanque duplo, ou seja, receber Aécio Neves, o candidato de seu partido, apoiá-lo, mas não deixar de abrir a casa para o PSB.

Alckmin sabe que essa eleição não será um passeio. O PT começa a acenar com a perspectiva de acordo com o PMDB, o que tiraria do tucano o apoio, por exemplo, de Gabriel Chalita (PMDB). Tudo o que o tucano quer prioritariamente é a própria reeleição, e, para isso, precisa de aliados. Um que está próximo, é o PSB. Embora os socialistas não representem uma grande força no estado, têm prefeituras nada desprezíveis, como Campinas, palanque que pode ser somado ao projeto do PSDB paulista.

Nesse sentido, Alckmin tem contado com o apoio de José Serra. O ex-candidato a presidente, que atualmente se recusa a falar publicamente de política, tem comentado a amigos que a reeleição de Alckmin é muito importante, o que já é um avanço para quem vem sendo tratado como alguém com um pé fora do PSDB. Os amigos do ex-governador, entretanto, duvidam que ele saia desse ninho.

Em tempo.
Hoje, tem mais um capítulo de Aécio e Eduardo em São Paulo, no encontro de prefeitos em Santos. Todas as atenções estarão voltadas para o modo como os tucanos aliados ao governador Alckmin tratam um e outro. É a turma focada em ver de perto se a história de palanque duplo é para valer.

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