Valor Econômico - 05/04
Faz um ano, no relatório de inflação de março, o Banco Central (BC) previa para 2012 alta de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) e inflação de 4,5% e 4,4% para os cenários de mercado e com taxas de juros e câmbio constantes, respectivamente. As medianas das expectativas de mercado não estavam muito longe disso: 3,2% para o PIB e 5,1% para o IPCA. De fato, em meados do ano o mercado chegou a projetar inflação de apenas 4,8%.
Como se sabe, o ano passado fechou com indicadores bem piores do que esses. Duas leituras bem diferentes tentam explicar por que isso ocorreu. Cada uma delas, por sua vez, leva a distintos prognósticos e recomendações para 2013.
Comecemos pelo PIB. Na visão que se pode chamar de "governamental", mas que também é defendida por analistas de mercado, o PIB cresceu pouco em 2012 devido a quatro fatores principais: a quebra da safra agrícola, por questões climáticas; a contração de 36% na produção de ônibus e caminhões, reflexo de mudanças regulatórias; o ajuste de estoques na indústria, que fez a produção cair, enquanto as vendas iam bem; e a crise internacional, em especial na Europa, que levou à retração dos investimentos.
O risco é que mudanças macroeconômicas necessárias não sejam viáveis com antecipação da disputa eleitoral
De acordo com essa visão, não só a economia foi melhor, na prática, do que sugerem as estatísticas do PIB, como a recuperação em 2013 estaria em certa medida garantida, podendo surpreender positivamente. Assim, a agropecuária deve ir bem este ano, com uma safra recorde; a produção de caminhões e ônibus se recupera e deve ter expansão elevada, em função da base de comparação; o ciclo de ajuste de estoques já está completo, de forma que será preciso produzir para vender; e o pior da crise mundial ficou para trás, apesar de estresses pontuais, como os vividos recentemente em Chipre. Os que defendem esta posição apostam numa alta do PIB de até 4% este ano.
Na visão "alternativa", as causas do fraco desempenho do PIB em 2012 são domésticas, até porque a crise não impediu que outros países na América Latina fossem bem ano passado. Em especial, se avalia que a forte contração do investimento foi causada pelo crescente intervencionismo estatal, com mudanças regulatórias importantes e políticas de controle de preços; e pelo "stop and go" da política cambial, notadamente em relação à entrada do capital estrangeiro no país. Também pesaram a maior tolerância com a inflação, a perda de transparência da política fiscal, e a pressão sobre os bancos privados, que derrubou a alta do crédito ao consumidor, que já se ressentia do elevado endividamento das famílias. Por fim, mas não menos importante, pela dificuldade em deslanchar o investimento governamental e as concessões na infraestrutura.
De acordo com esta visão, esses fatores limitarão a recuperação da economia brasileira em 2013, que deve ser apenas moderada. Em particular, se entende que, com o mercado de trabalho em pleno emprego, será difícil crescer sem que a inflação acelere, de forma que, mesmo que a economia fique mais pujante no curto prazo, em algum momento será necessário reduzir o crescimento para controlar a alta dos preços. Quem se alinha com esta visão projeta crescimento entre 2,5% e 3%.
Algo paradoxalmente, os alinhados com a primeira visão também estão mais otimistas com a inflação, por acreditar que essa só não caiu mais em 2012 por conta do choque de preços agrícolas, em função da seca que derrubou a produção de grãos nos EUA; da forte alta do salário mínimo; e da desvalorização do real. Somando-se à redução dos preços agrícolas, com a supersafra brasileira, uma alta mais moderada do mínimo, um câmbio estável, e a queda das tarifas de eletricidade e dos impostos sobre a cesta básica, o efeito em 2013 seria uma diminuição "natural" da inflação. Não haveria, nesse caso, necessidade de adotar uma política monetária mais contracionista.
A visão "alternativa" enxerga uma inflação que só não superou o teto da meta em 2012 devido a intervenções pontuais, que dão alívio apenas temporário à alta acelerada dos preços, bem caracterizada pela grande proporção de preços que sobem todo mês. Some-se a isso que a "queda" da inflação em 2012 resultou apenas da reponderação do IPCA: com os mesmos pesos para os diversos preços, a inflação em 2012 teria sido igual à de 2011, a despeito do crescimento mais baixo. Além da pressão sobre salários, que se reflete nos preços de serviços, a inflação deve subir com a recomposição das margens na indústria; e o reajuste das tarifas de ônibus em Rio e São Paulo, estáveis em 2012, por conta das eleições municipais. Nesta visão, os juros já deveriam ter subido.
Essa dissonância sobre a economia brasileira deve durar até o início do segundo semestre. Até lá, a política macroeconômica não deve mudar. O grande risco é que, com a antecipação da disputa eleitoral, mudanças que venham então a ser necessárias não sejam mais viáveis politicamente. Se isso ocorrer, os desajustes vão aumentar, antes de serem atacados, a um custo maior, pelo governo que assumir em 2015.
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