O GLOBO - 05/04
O ministro Guido Mantega disse que é "claro" que os juros podem subir para enfrentar a inflação. "A taxa de juros é uma variável, não é estática. O Banco Central pode, se achar necessário, elevar os juros ou baixá-los. Isso pode ser feito a qualquer momento." Mantega disse que a queda da produção industrial de fevereiro será revertida em março e acha que o PIB está subindo e a inflação, caindo.
Em entrevista na Globonews, o ministro da Fazenda negou que o Banco Central esteja amarrado a uma taxa de juros:
- Nós fizemos reformas que permitiram uma política monetária mais eficiente e com um juro mais civilizado. Agora ele poderá ter variações menores. Não é mais necessário subir muito, se é que precisa.
Na semana em que ficou claro que a inflação vai em breve estourar o teto da meta, e o IBGE divulgou que a produção industrial despencou em fevereiro, o ministro afirmou:
- Estamos hoje com crescimento, a economia voltando a crescer, a inflação está caindo, estamos na direção certa. O governo nunca se furtou de usar todo os instrumentos necessários para combater a inflação. Começamos o governo Dilma subindo juros e reduzindo os gastos. Elevamos a Selic para combater a inflação que veio de 2010, que em parte era porque a economia tinha crescido e em parte pelo choque de commodities, muito semelhante a 2012 para 2013. O ano passado foi inflacionário. Teve uma seca nos EUA que subiu todos os grãos e teve uma seca no Brasil também. E isso fez subir o preço da alimentação. Estamos colhendo os frutos de 2012. Houve também uma desvalorização cambial de 20% que elevou os preços.
Ele disse que este ano isso está sendo consertado. Houve uma supersafra e não se espera desvalorização maior do câmbio:
- Queremos a inflação mais baixa no país. Inflação alta prejudica todo mundo, prejudica o consumidor, o trabalhador, o investidor, causa instabilidade, afeta expectativas:
Mantega nega que as desonerações sejam para controlar a inflação:
- Estamos com uma política de redução de impostos que já foi anunciada há algum tempo e vem sendo praticada. O Brasil tinha uma carga tributária muito elevada e isso tira competitividade da produção brasileira. Na medida do possível, e sem desequilibrar as contas públicas, vamos reduzindo tributos. Estamos generalizando a desoneração da folha, isso é uma redução de custos. Quase não tem mais IPI em bens de capital. Caminhões já têm IPI zero. Na cesta básica, o que ainda existia de impostos federais foi eliminado para sempre.
Perguntei se ele achava justo o governo abrir mão de R$ 2,2 bilhões de receita, que poderia ser usado em outro setor, cobrando menos imposto, por exemplo, de remédio:
- Estamos barateando para que a população como um todo possa ter acesso e comprar automóveis. Se você perguntar a qualquer brasileiro, todo mundo quer comprar automóvel ou trocar de carro. Se a indústria faturar menos, em vez de continuar contratando, ela vai desempregar gente e isso nós não queremos. Ela vai deixar de comprar vidro, plástico, equipamentos numa cadeia longa que move um quarto da produção da indústria de transformação. Isso tem que ser preservado.
O baixo crescimento ele debita à crise mundial. Ponderei que países em crise cresceram mais. Ele disse que no ano passado, sim, mas nos últimos seis anos o Brasil cresceu mais que vários países.
Sobre a produção industrial de fevereiro, ele disse que foi "um mês ruim", mas que a boa notícia foi o crescimento dos bens de capital, de 1,6%:
- A parte mais difícil é fazer voltar o investimento. Ele está voltando. O país está crescendo mais do que no ano passado, mas não espere ver número positivo todo mês. Tem essa irregularidade.
Ele rejeitou a expressão "alquimia fiscal". Diz que seu Ministério apenas fez o que é permitido pela LDO e que usou o Fundo Soberano exatamente porque foi uma poupança feita em ano de boa arrecadação:
- Essas contas serão auditadas. Não houve nenhuma irregularidade. Este ano pedimos na LDO a possibilidade de fazer um abatimento maior: além do investimento, a desoneração.
O ministro disse que o BNDES continuará recebendo empréstimos do Tesouro, inclusive este ano, mas num volume cada vez menor, porque o setor privado tem sido estimulado a entrar no financiamento do investimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário