O Estado de S.Paulo - 05/04
Para a indústria de veículos, tudo.
A produção das montadoras cresce uma enormidade. Nada menos que 39,2%, em março sobre fevereiro; e 3,4%, em relação a março do ano passado. Comparando-se o primeiro trimestre deste ano com o primeiro de 2012, o avanço foi de 12,1%.
Tomadas as mesmas bases de comparação, os números correspondentes às vendas, algo mais baixos, não são pouca coisa: houve crescimento de 20,8% sobre fevereiro; queda de 5,5% sobre março de 2012; e expansão de 1,5% no trimestre.
No entanto, para o governo, as montadoras, tadinhas, precisam de ajuda. Desde 2009 vêm tirando proveito de reduções tributárias e acabam de ganhar novo presente: a prorrogação dos favores fiscais até o final deste ano. As graças do governo são tão generosas que nem a Anfavea, a associação que defende os interesses do setor, tem argumentos aceitáveis para justificá-las. Ontem, seu presidente, Cledorvino Belini, não conseguiu dizer outra coisa senão agradecer e repetir que, não fosse a prorrogação, os estoques cresceriam e o desempenho do segmento decepcionaria seus dirigentes.
Por essa lógica, o governo deveria conceder as mesmas bondades para cada setor industrial incapaz de cumprir as metas que compõem os planos dos seus dirigentes. O problema é que nem todos têm o mesmo poder de lobby, nem todos contam com os mesmos padrinhos, nem todos contam com o respaldo obtido pelas montadoras de veículos da aristocracia do proletariado, agasalhada tanto pelo governo Lula quanto pelo governo Dilma.
Não se trata somente de um caso de sucesso de quem consegue gritar mais alto ou de quem tem maior poder de convencimento ante as autoridades. Trata-se, também, de omissão e/ou de fragilidade das lideranças da Indústria, tanto na Confederação Nacional da Indústria como na Fiesp, sempre propensas a aplaudir qualquer presentinho do governo sem, no entanto, se empenharem em arrancar melhores condições de competitividade para todo o setor produtivo, e não apenas para os abonados de sempre.
Essas cortesias não saem barato. De desoneração em desoneração, o Tesouro vai perdendo receita. O governo admite que, neste ano, passarão dos R$ 50 bilhões, algo na casa de 32% do superávit primário previsto para 2013 pelo Banco Central.
Mas o preço mais alto é o avanço das distorções. Está claro que, uma vez concedidas, sempre em caráter transitório, essas isenções se perpetuam, com a agravante de semearem incertezas na medida em que tudo depende da boa vontade e dos favores do rei, circunstâncias que não cabem nos planejamentos - até porque podem cessar a qualquer momento.
No mais, são expedientes que não garantem, como não vêm garantindo, o bom desempenho da indústria. Os pibinhos vão se sucedendo e a política de puxadinhos, também. Por essas e outras é que se aprofunda o processo que a Fiesp chama de desindustrialização. E o que se desindustraliza já não é mais indústria. É desindústria.
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