FOLHA DE SP - 03/04
SÃO PAULO - A internacionalização das universidades brasileiras é uma meta a perseguir. Pesquisadores que passam um período no exterior e retornam trazem de volta não só conhecimento novo como uma rede de contatos que pode resultar em proveitosas colaborações entre instituições brasileiras e estrangeiras. Faz sentido que o governo invista em programas para enviar jovens cientistas e estudantes para as universidades de ponta fora do país.
A pergunta incômoda é se o Ciência sem Fronteiras foi dimensionado corretamente e se está funcionando bem. E eu receio que a resposta seja duplamente negativa. Para começar, o programa, lançado em 2011, peca por um certo gigantismo. O Planalto pretende mandar 101 mil alunos de graduação e pós-graduação ao exterior até 2014 a um custo de R$ 3,2 bilhões. Será que temos tantos jovens qualificados para extrair o melhor desse tipo de experiência? Eles estão partindo com um domínio pelo menos razoável do idioma do país em que irão estudar? E, no caso dos graduandos, será que já reúnem conhecimento suficiente em sua área para que a viagem seja mais do que um cursinho de língua estrangeira adquirido a preço extorsivo?
Tudo indica que não. Levantamento feito pela Folha no início do ano mostrou que, dos 8.000 graduandos agraciados com uma bolsa, apenas 12% frequentam escolas de primeira linha. Os demais estão em universidades que não são melhores do que as melhores nacionais.
A instituição que mais recebeu brasileiros em termos absolutos foi a Universidade de Coimbra, em Portugal, que fica abaixo da USP nos rankings internacionais e nem ao menos oferece a vantagem de familiarizar o aluno com um idioma novo.
Talvez seja o caso de recalibrar o Ciência sem Fronteiras, tornando suas metas mais consonantes com o triste estado da educação brasileira e colocando mais foco na pós-graduação do que na graduação.
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