O Estado de S.Paulo - 03/04
A economia brasileira está sob processo de implacável desarrumação.
É a sucessão de pibinhos que, provavelmente, continuará este ano com um avanço da atividade econômica não superior a 3%.
É também a alta resistente e espalhada da inflação que, nos dois primeiros trimestres deste ano, perfurará o teto de 6,5% em 12 meses, incluída aí a faixa de escape de 2 pontos porcentuais. Tão ou mais preocupante, o governo não se dispõe a combater a inflação com a arma mais poderosa que possui, que é a política monetária (política de juros). Ao contrário, o combate à inflação voltou a ser feito por expedientes antigos e notoriamente ineficientes, como o represamento de preços e tarifas (caso dos combustíveis e da condução) e desonerações tributárias (como a da cesta básica e a dos veículos).
E é, ainda, a rápida deterioração das contas externas, sobretudo do Comércio Exterior, cujo superávit chegou aos US$ 40 bilhões em 2007 e vai sendo esvaziado rapidamente (veja o Confira). Neste ano, dificilmente passará dos US$ 9 bilhões - algumas projeções apontam para apenas US$ 4 bilhões.
Os desequilíbrios transparecem de outras avaliações. O governo gasta demais, como o Banco Central vem denunciando e ontem foi novamente objeto de avaliações de seu presidente, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Isso não é tudo, porque a transparência vem sendo sacrificada pelo uso de truques contábeis.
Embora contemplada com seguidos incentivos, a indústria mostra desempenho modorrento. Isso acaba de ser confirmado pelo IBGE, a partir dos levantamentos de fevereiro. Há um notório descompasso entre consumo e oferta, repetidas vezes denunciado pelo Banco Central, que desemboca nos maus resultados das contas externas. O mercado de trabalho está excessivamente aquecido e desequilibrado, o que concorre para a exacerbação da demanda, para elevar custos do setor produtivo e para a desenvoltura da inflação, principalmente no setor de serviços.
Informações sobre o apagão logístico estão todos os dias na TV e nos jornais. O governo parece ter-se dado conta de que é preciso puxar o investimento. Mas é lento demais e pouco eficiente. O setor privado parece algo mais propenso a investir, como mostra o melhor resultado do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), mas segue com o breque de mão puxado. Teme o excessivo intervencionismo do governo e a falta de determinação em combater o custo Brasil, que mina a competitividade do setor privado.
Até recentemente, o governo pretendia compensar a baixa capacidade de competir do setor produtivo com doses alentadas de desvalorização cambial (alta do dólar) que garantissem o encarecimento do produto importado. Mas deu marcha a ré nessa empreitada quando percebeu as avarias que apareceram na inflação.
A presidente Dilma não mostra disposição para a arrumação da economia. Não só porque seu conceito de ordem difere do partilhado pela maioria dos analistas, mas também porque se julga segura pelas pesquisas de avaliação de seu governo. Como estratégia eleitoral, a presidente pode estar certa. Mas, lá na frente, ficará mais difícil colocar a casa em ordem.
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