O GLOBO - 17/03
A eleição do Papa Francisco marca uma virada de página no cenário da Igreja nos nossos dias, saindo do confronto cansativo entre conservadores e ditos reformistas, para o despontar de uma perspectiva realmente fundadora. Há que se considerar um salto, pelo que Bergoglio deixa para trás. Não deparamos mais uma dialética entre continuidade e reformismo, mas um real horizonte, na chamada do Vaticano II, de uma Igreja aberta aos sinais dos tempos, no seio da nossa pós-modernidade.
A visão do pastor, marcado pelo contato com a pobreza estrutural do dito progresso, junta-se à do scholar, no trato do cotidiano, independentemente da mensagem teológica ou filosófica de seus antecessores imediatos.
A rapidez da escolha indicaria, sobretudo, o repúdio ao status quo da Cúria, pela massa dos cardeais, até o temor de sua sobrevivência, pela volta eventual de qualquer italiano ao bispado de Roma.
A experiência do novo pontífice de ter ido ao Irã fortalece a crença de que as prioridades do Papa Francisco vão ao problema dos conflitos culturais e à luta contra o fundamentalismo cristão, como evidenciam os republicanos nos Estados Unidos.
Um primeiro papa não europeu põe em relevo mais do que uma nova polarização geográfica para o futuro da Igreja, e a usura das visões restritas do Vaticano II, levando ao sacrifício da Teologia da Libertação, na leitura duríssima que lhe deram João Paulo II e Bento XVI.
Despontaria a reabertura do ecumenismo, e a consistência de um diálogo das igrejas cristãs, fora do primado estrito em que Bento XVI constituiu a Igreja Católica.
A quase imediata eleição de Bergoglio só pode ser explicada pela rejeição funda, no inconsciente coletivo do Colégio dos Cardeais, à tolerância com as transições táticas e à mantença da indefinição sobre a Igreja que espera o nosso tempo.
O século de antimodernidade revelou a tentação do domínio do aparelho e do poder sobre o anúncio de uma Igreja, a superar a cômoda vigência de um universalismo ocidental.
Marca, ainda, a eleição de Francisco a amplitude do arco da mudança, evitando o risco de dominações do cristianismo extraeuropeu, apartando-se de uma hegemonia latente dos Estados Unidos, ou do Brasil. Surge, por aí, um pluralismo prospectivo, na verdadeira interação equilibrada entre os países da América Latina, no reacordar religioso do México, ao lado da Colômbia, ou do Peru.
A irrupção de tantas surpresas na escolha de Bergoglio só pode ecoar o recado profético do outro jesuíta, que poderia tê-lo precedido no bispado de Roma, o cardeal Martini, na sua arguta percepção de que o magistério da Igreja já sofreria de dois séculos de atraso.
O rebanho, entrevisto por João XXIII, só se capturaria pelo Concílio que, depois de 400 anos, respondesse ao profetismo, depois das certezas das docências infalíveis. E aí está uma história grávida do testemunho desses sinais, à espera da palavra do Papa Francisco.
A visão do pastor, marcado pelo contato com a pobreza estrutural do dito progresso, junta-se à do scholar, no trato do cotidiano, independentemente da mensagem teológica ou filosófica de seus antecessores imediatos.
A rapidez da escolha indicaria, sobretudo, o repúdio ao status quo da Cúria, pela massa dos cardeais, até o temor de sua sobrevivência, pela volta eventual de qualquer italiano ao bispado de Roma.
A experiência do novo pontífice de ter ido ao Irã fortalece a crença de que as prioridades do Papa Francisco vão ao problema dos conflitos culturais e à luta contra o fundamentalismo cristão, como evidenciam os republicanos nos Estados Unidos.
Um primeiro papa não europeu põe em relevo mais do que uma nova polarização geográfica para o futuro da Igreja, e a usura das visões restritas do Vaticano II, levando ao sacrifício da Teologia da Libertação, na leitura duríssima que lhe deram João Paulo II e Bento XVI.
Despontaria a reabertura do ecumenismo, e a consistência de um diálogo das igrejas cristãs, fora do primado estrito em que Bento XVI constituiu a Igreja Católica.
A quase imediata eleição de Bergoglio só pode ser explicada pela rejeição funda, no inconsciente coletivo do Colégio dos Cardeais, à tolerância com as transições táticas e à mantença da indefinição sobre a Igreja que espera o nosso tempo.
O século de antimodernidade revelou a tentação do domínio do aparelho e do poder sobre o anúncio de uma Igreja, a superar a cômoda vigência de um universalismo ocidental.
Marca, ainda, a eleição de Francisco a amplitude do arco da mudança, evitando o risco de dominações do cristianismo extraeuropeu, apartando-se de uma hegemonia latente dos Estados Unidos, ou do Brasil. Surge, por aí, um pluralismo prospectivo, na verdadeira interação equilibrada entre os países da América Latina, no reacordar religioso do México, ao lado da Colômbia, ou do Peru.
A irrupção de tantas surpresas na escolha de Bergoglio só pode ecoar o recado profético do outro jesuíta, que poderia tê-lo precedido no bispado de Roma, o cardeal Martini, na sua arguta percepção de que o magistério da Igreja já sofreria de dois séculos de atraso.
O rebanho, entrevisto por João XXIII, só se capturaria pelo Concílio que, depois de 400 anos, respondesse ao profetismo, depois das certezas das docências infalíveis. E aí está uma história grávida do testemunho desses sinais, à espera da palavra do Papa Francisco.
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