O ESTADÃO - 17/03
O governo Dilma vai sendo seguidamente surpreendido pelo desempenho insatisfatório da atividade econômica (avanço do PIB baixo demais) e pela virulência da inflação.
Até há algumas semanas, as autoridades martelavam um diagnóstico inconsistente para essas derrapadas. Debitavam-nas à crise (crescimento reduzido do PIB global) ou a choques externos de oferta – como a seca que derrubou a produção de soja e milho no Centro-Oeste dos Estados Unidos que, em 2012, puxou para cima os preços das commodities agrícolas.
São alegações insatisfatórias. Não explicam por que outros países emergentes (para ficar somente com eles) não foram atingidos por essas mazelas na mesma proporção com que foi o Brasil.
Felizmente, de uns tempos para cá, já se nota uma virada nessa análise escapista, que tira a responsabilidade do governo. A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, tem reconhecido que a falta de competitividade da indústria se deve a problemas internos, especialmente à precariedade da infraestrutura – e não propriamente à ação predatória dos concorrentes externos.
Por sua vez, o Banco Central passou a ser mais contundente do que foi há meses. Apontou distorções também internas para a disparada dos preços, sobretudo para a existência de demanda forte não acompanhada por oferta adequada. Admite que a inflação também é fruto das despesas públicas excessivas, do aquecimento do mercado de trabalho e da pouca folga na capacidade de produção da indústria.
Isso é bem diferente do que afirmava até recentemente nos seus documentos oficiais de comunicação com o público e nas manifestações públicas dos seus dirigentes. O Banco Central repetia, então, que a inflação convergiria mais ou menos espontaneamente para a meta a partir do segundo semestre deste ano.
Mas o que falta para o pulo do gato? Tudo indica que o Banco Central, juntamente com as outras equipes da área econômica, tem dificuldade em definir a prioridade do momento: se garantir mais crescimento econômico ou se combater a inflação.
São objetivos em certa medida antagônicos. Para simplificar: a médio prazo, juros mais elevados tendem a comprometer a expansão econômica e passam sinais para o setor privado de que devem puxar o breque nos investimentos. E mais crescimento – alimentado com mais despesas públicas, mais renúncia fiscal e juros mais soltos – tende a elevar os custos já esticados da mão de obra e a turbinar a inflação.
Se a opção fosse deixar tudo por conta do que pensa o Banco Central, o alvo do momento seria a inflação. Na última Ata do Copom está dito, com todas as letras, que inflação elevada compromete muita coisa, inclusive o crescimento econômico.
Essa tende a ser também a opção da presidente Dilma. Ela sabe que a inflação cobra um preço eleitoral mais alto do que o PIB baixo, ainda mais se o povão puder continuar consumindo como está. O problema é que não há folga no calendário. E, caso a inflação não seja imediatamente atacada com vigor, a conta pode chegar lá na frente, quando o debate eleitoral já tiver tomado o ambiente político.
Nenhum comentário:
Postar um comentário