FOLHA DE SP - 17/03
A derrubada do Muro de Berlim, em 1989, acelerou um debate interno de décadas entre os partidos socialistas europeus, com diferentes níveis de abrangência e profundidade em diversos países, visando reavaliar seu posicionamento e as consequências da falência do regime de controle estatal da economia no bloco soviético.
Depois do intenso debate, a conclusão majoritária, porém não consensual, foi a de que o modelo mais eficiente, racional e capaz de gerar empregos, crescimento e riqueza aos cidadãos é o de livre competição, circulação de mercadorias e capital, no qual o correto funcionamento do sistema de preços é fundamental para direcionar a aplicação de recursos e o consumo, sem sujeitá-los a decisões arbitrárias e enviesadas.
Dentro dessa visão, os recursos obtidos com a arrecadação maior de tributos resultante do progresso e do crescimento econômico podem, além de atender às necessidades de investimentos e custeio do Estado, ser usados para finalidades sociais, como aumentos de benefícios à população e distribuição de renda, com a questão distributiva sendo completada pela tributação progressiva.
Já a visão liberal entende que uma menor tributação deixa mais recursos disponíveis para investimentos do setor privado, gerando maior retorno social pela criação de mais empregos e mais arrecadação de impostos resultante do maior crescimento.
A evolução do debate socioeconômico nas últimas décadas trouxe grande avanço na capacidade de geração de riqueza em diversas regiões do mundo, inclusive em governos socialistas, com distribuição de renda e aumento de benefícios em diversos níveis de intensidade, dependendo da inclinação política de cada governo e país.
Na América Latina, essa transformação tem tido evolução menos progressista e homogênea. Em muitas partes da nossa região, ainda não está consolidado o entendimento de que o sistema de economia de mercado é o melhor para gerar riqueza e empregos. E muitos ainda creem que os regimes socialistas são aqueles que aumentam a participação estatal na economia, promovendo estatização de empresas em alguns casos.
Nesse quadro, a América Latina, hoje, destoa da maior parte do mundo. Em vários países da nossa região ainda prevalece a visão de que o Estado é mais eficiente quando intervém na economia, especialmente nos mecanismos de fixação de preços e de alocação de recursos.
Essa é uma visão superada, mais um episódio de retrovisor quebrado na América Latina.
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