O presidente Hugo Chávez deixa a Venezuela em profunda crise econômica e política. O chavismo permanece no poder, mas já estão contratados vários conflitos no grupo governista e na oposição. No Brasil e nos Estados Unidos, há uma grande torcida por estabilidade no país. O comércio com os Estados Unidos é 10 vezes maior do que o comércio entre Venezuela e Brasil.
Depois de 14 anos de governo chavista, a Venezuela avançou no campo social, mas ficou com as sequelas de um líder que por temperamento acirrava os conflitos. Não houve uma revolução bolivariana no sentido de transformação estrutural da sociedade para melhor. Houve mais políticas de transferência de renda, mais investimentos nas favelas, novos projetos sociais, mas tudo foi montado como benesses de um líder paternalista.
Um fenômeno forte como Chávez não chega ao poder e se mantém tanto tempo se não houver condições para isso. A dissolução da confiança nos políticos tradicionais foi ocorrendo como consequência dos erros dos velhos Copei e Ação Democrática, o duopólio oligárquico que dominava a política até então.
Chávez executou um projeto de captura das instituições. Seu sistema foi corroendo as bases que são fundamentais em qualquer democracia: a independência dos poderes, a alternância do poder, a liberdade de imprensa. Sua estratégia foi aproveitar momentos de maior popularidade para realizar plebiscitos e referendos. Os que ganhava, seguia. Os que perdia, refazia até ter o resultado desejado. Sempre realizou eleições. Este foi seu truque para dar uma aparência democrática a um governo que foi ficando cada vez mais ditatorial.
A incompetência da oposição ajudou. Ela tentou a pior das reações: um golpe de Estado em abril de 2002. Nisso se igualou a ele, que em 1992 tentou uma quartelada, que fracassou. Hoje, ainda a oposição está dividida.
A lei venezuelana determina uma nova eleição. Quem tem que assumir, até a realização da eleição, é o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, que foi seu companheiro na tentativa de golpe de Estado em 92 e hoje está envolvido em negócios os mais obscuros. Nicolás Maduro é a escolha de Chávez e deve ser o candidato com chance de ser eleito, mas ele não tem o carisma do líder morto e jamais terá a sua força.
A morte de Chávez deixa um enorme espaço vazio entre seus adoradores e divisão entre as suas hostes. Ninguém se iguala a ele em termos de capacidade de liderança e em carisma. As Forças Armadas têm hoje comandantes nomeados por Chávez e um dos cenários é um governo diretamente militar.
A economia cresceu no ano passado pelo aumento do gasto público para ele ganhar a eleição, mas o país se desindustrializou ao longo dos últimos anos e perdeu substância econômica no governo Chávez. O crescimento dificilmente se sustenta. A inflação já alta subirá ainda mais pelos efeitos da desvalorização do bolívar. A PDVSA, principal empresa e fonte de arrecadação está depauperada. Os investidores estão ressabiados. A elite enviou parte da fortuna para Miami. Serão difíceis os momentos que o país tem pela frente.
O Brasil tem um superávit comercial enorme com a Venezuela. Em 2012, foram US$ 5 bilhões exportados contra apenas US$ 1 bi de importação. Saldo de US$ 4 bilhões. Carne bovina, de frango e açúcar são os três principais produtos exportados pelo Brasil. Já nossas importações estão concentradas em naftas petroquímicos e coque de petróleo. A corrente de comércio triplicou nos anos 2000, de US$ 1 bilhão para a casa de US$ 5 a 6 bilhões. A tendência desse ano é uma exportação menor, por causa da desvalorização cambial na Venezuela. Os Estados Unidos e a Venezuela têm uma corrente de comércio de US$ 56 bilhões. Em 2011, quase a metade de toda a exportação venezuelana teve como destino os Estados Unidos. Quase 30% da importação veio de lá. O antiamericanismo era pura retórica.
Nunca, em tempos recentes, a América Latina pareceu tanto com seus estereótipos como na novela da doença de Chávez. Cercado pelo paredón armado pelo governo de Cuba, contra toda a circulação de informação confiável, sua doença teve uma evolução que não pode ser acompanhada por quem de direito: os milhões de cidadãos que ele governava.
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