Não foi o PT nem o PSDB que criou o mensalão, foi o deputado Paulo Maluf.
Esta teoria está registrada no livro que recém publiquei "Baioneta calada e baioneta falada", onde relato as minhas memórias sobre o período em que exerci dois mandatos de deputado federal (1984-1992), tendo perdido meus direitos políticos no regime militar pela Lei de Segurança Nacional por ter denunciado a Operação Cristal (na qual militares realizavam atentados para acusar a esquerda). O STF aceitou, em julgamento secreto, denúncia contra mim feita a pedido do ministro do exército.
Essa história do mensalão nasceu há muitos anos, engendrada pelo então governador de São Paulo, Paulo Maluf, tendo sido praticada pela primeira vez contra a candidatura de Djalma Marinho, que, derrotado para o Senado em 1974, voltaria em 1978 como deputado federal.
E tão marcante foi sua atuação na Câmara que ele foi candidato a presidente da Casa, com apoio de parte da Arena e praticamente de todo o MDB. Contra ele foi lançada a candidatura do gaúcho Nelson Marchezan, figura de menor expressão, mas em cujo nome Maluf era altamente interessado.
Tínhamos Djalma Marinho como candidato eleito da Câmara dos Deputados. Era o nome que toda a oposição iria sufragar, e a parte boa da Arena.
Era bem conceituado, muito ligado a Tancredo Neves, a Ulysses Guimarães, Franco Montoro.
Então articulamos um esquema para ele, candidato da Arena, ser apoiado por nós, para forçar sua eleição.
Corria um boato de que quem se comprometesse a votar em Marchezan teria direito a um empréstimo de 10 milhões de cruzeiros (moeda na época) no Banco do Estado de São Paulo, onde o dinheiro permaneceria depositado à módica taxa de juros, para a época, de 2,5%. O próprio banco, por intermédio de sua financeira, pagaria a taxa de 5% aos tomadores do empréstimo.
Com essa manobra, o deputado que votasse no gaúcho receberia uma diferença equivalente a, praticamente, um novo salário. Na ocasião, um deputado federal ganhava cerca de 30 milhões de cruzeiros e com este mensalão passaria a ganhar mais 25 milhões de cruzeiros.
Eu tinha um primo que era gerente de uma das agências daquele banco. Dada a delicadeza da situação, evitando falar por telefone, escrevi pedindo-lhe que me fornecesse extraoficialmente a relação dos deputados mineiros que tinham feito essa operação. Comentava-se na Câmara, inclusive entre nós do MDB que cinco dos nossos a teriam feito. Do pessoal da Arena, quase 95%. Recebi desse meu parente, cujo nome prefiro não revelar, datilografada em papel sem timbre, a relação com os nomes da bancada mineira que tinham feito a operação. Fui ao Tancredo e mostrei a ele. Não cinco, mas quatro dos nossos haviam aderido.
Quando Tancredo viu os nomes, preocupado, disse: "Olha, você está na obrigação de procurar o Djalma Marinho e entregar essa relação a ele.
Ele tem um carinho paternal por você, ninguém mais indicado para levar-lhe a noticia, que é a prova de que ele está derrotado, pois, se na bancada de Minas acontece isto, imagina o que não está ocorrendo nas bancadas de outros estados." Há que se notar que naquela ocasião o comportamento da bancada mineira era apontado como exemplar. Procurei Djalma Marinho e expliquei- lhe a situação. Quando passei a relação, ele me falou, em amargurado desabafo: "Se for verdade isso que você me entrega, estou batido na minha disputa pela presidência da Câmara.
Até cinco minutos atrás, achava estar com a eleição garantida." Ao que refutei: "Se for verdade, não. Obtive esses dados de um parente em quem tenho confiança.
Ele é funcionário do banco e me atendeu com todos os cuidados para se proteger. O senhor não tenha dúvida, seu concorrente será vencedor." Então ele, analisando um a um, ia comentando: "Fulano, que coisa, hein! Sicrano, que falta de caráter!" Quarenta e oito horas depois, o resultado mostrou uma fragorosa derrota de Djalma Marinho, consequência do esquema montado por Maluf, ainda hoje influente na política, já que o vemos abraçado ao ex-presidente Lula, circulando por todo o Brasil, pois ele só não pode sair do País, que botam a mão nele como fizeram com o Salvatore Cacciola.
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