FOLHA DE SP - 06/03
SÃO PAULO - Ao contrário de homeopatia, florais de Bach e outros representantes da chamada medicina alternativa, fitoterápicos apresentam princípios ativos, que provocam reações fisiológicas. Vale lembrar que a mortal cicuta e o psicodélico cipó-mariri são produtos "100% naturais", não obstante seu poder de nos levar a óbito ou ao delírio. Assim, deve-se avaliar com cuidado a disposição da Anvisa de relaxar a regulação do setor.
Como entusiasta da medicina libertária, acredito que cada um deve ser livre para dispor do arsenal farmacológico da forma que preferir, sem precisar de uma autorização do Estado para isso. É fundamental, porém, que as pessoas saibam o que estão tomando e tenham acesso a dados precisos que indiquem os benefícios esperados e o risco que correm ao consumir determinado produto.
O problema com fitoterápicos é que é difícil extrair deles essas informações. Uma planta pode conter centenas de compostos. Por tentativa e erro ao longo dos milênios, descobrimos que a erva X é boa para a moléstia Y, mas isso não significa que tenhamos identificado a substância responsável pelo resultado.
Para agravar o quadro, as proporções entre os princípios ativos contidos em cada planta mudam conforme solo, clima, insolação, armazenagem, preparo e sabe-se lá mais o que, tornando a necessária padronização uma meta quase inatingível.
O que de mais positivo podemos dizer sobre os fitoterápicos é que são um excelente ponto de partida para desenvolver novos medicamentos. Mas, se as pessoas fazem questão de sucumbir à falácia do apelo à natureza, não vejo razões para proibi-las. Apenas não dispensaria os fabricantes desses produtos de fornecer bulas tão completas quanto possível. Embora a experiência dos milênios indique que seu uso é, em geral, seguro, sabemos pouco sobre as interações com outras drogas e o risco para grupos específicos de pacientes.
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