quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Depois dos tablets, os ‘indies’ - ELIO GASPARI

O GLOBO - 13/02

Quem tem um livro na cabeça, deve escrevê-lo, porque será fácil colocá-lo na praça


Há apenas seis anos surgiu nos Estados Unidos o primeiro modelo do Kindle. Tinha o respaldo da Amazon, maior central de venda de livros do país, mas não decolou. Em 2009, com um modelo melhor, o mundo se deu conta de que os livros de papel, que fizeram a fortuna dos editores de Veneza no século XVI, haviam ganho um concorrente. Algo como a estranha sensação que os fabricantes de carruagens tiveram quando viram o primeiro veículo sem cavalos. Um ano depois, Steve Jobs mostrou ao mundo o iPad, como Henry Ford apresentou o modelo T. Ao final do ano passado haviam sido vendidas cerca de 130 milhões de tabuletas de vários fabricantes e, em apenas dois anos, os e-books fecharam 2012 com 22% das vendas de livros nos Estados Unidos.

É um bicho que o freguês compra em dois minutos, custa metade do preço, não ocupa espaço nem junta poeira.

Há poucos dias a Apple, cuja livraria tenta competir com a Amazon, mostrou que uma nova mudança está chegando à outra ponta do mercado, incentivando o acesso aos livros produzidos pelos autores. Criou na sua loja americana uma seção chamada “Breakout Books”. As produções independentes já existem há anos e a coisa funciona assim: o sujeito escreve seu livro (“indie”, em internetês, numa apropriação da gíria do mercado musical), manda o texto e uma capa para a loja eletrônica, grande ou pequena, e lá ele é vendido. Em geral esses livros custam metade do preço dos e-books do mercado. (Já existem iniciativas desse tipo no Brasil.)

Se as tabuletas facilitaram, baratearam e democratizaram o acesso aos livros, os “indies” terão o mesmo efeito na produção de autores. Todos mundo tem o direito de achar que o romance guardado em sua cabeça é um grande livro, mas nem todo mundo consegue uma editora. Como Hemingway e Stephen King tiveram originais rejeitados, fica-se com a esperança de que, havendo um editor, haverá mais um grande romancista. Facilitando-se o acesso da obra ao mercado, se ela pifa, o problema é do autor, sem custo de encalhe.

Com um diploma de economista por Stanford, Bella Andre saiu do mercado tradicional e foi para os “indies”. Botou seu livros eróticos na rede, inclusive nas grandes varejistas. Vendeu perto de um milhão de cópias e faturou mais de um milhão de dólares, talvez dois. Como essa modalidade de comércio ainda é incipiente no Brasil, por cá a edição em papel de um de seus romances sai por R$ 30 e o e-book por R$ 20. Na rede americana, os mais baratos custam zero e os mais caros ficam por US$ 5, ou R$ 10.

Andre entrou no mundo eletrônico depois de passar pelo mercado tradicional. O engenheiro aeronáutico Brian S. Pratt desencantou-se com a profissão. Queria ser escritor e teve que dirigir táxi. Em 2009, ganhou US$ 7,82 depois de colocar seu livro na loja da Smashwords. Dois anos depois, para horror da crítica gramatical e politicamente correta, recebeu um cheque de mais de US$ 100 mil.

Essa nova forma de produção e comercialização de livros dificilmente mudará o panorama literário. Poderá até piorá-lo, mas ajudará quem acredita que pode botar seu livro na praça.


Serviço: Mark Coker, o criador da maior distribudora de “indies”, a Smashwords, botou na rede seu livro “Secrets to ebook Publishing Success”. Evidentemente, é grátis.


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