RIO DE JANEIRO - De pé, no aeroporto, numa fila de passageiros que levaria horas até o check-in, vi o cartaz ao lado de outra fila muito menor. Mostrava quatro bonequinhos: uma mulher de perfil, grávida, com a competente barriga; outra mulher, com um bebê ao colo; um homenzinho numa cadeira de rodas; e um homenzinho de bengala, curvado, com uma das mãos nas ancas, como se sofrendo de reumatismo ou lumbago. Como não me identifiquei com nenhum deles, continuei na outra fila.
Até que me ocorreu. O homenzinho do lumbago era eu. Ou tinha idade para ser. Indômito, marchei em direção à tal fila. Num instante, fui atendido por um funcionário que não estranhou nem um pouco minha presença ali -principalmente depois de ler a data do nascimento na carteira de identidade. Desde então, não vacilo. Assim que abrem o embarque para "gestantes, portadores de necessidades especiais ou idosos", lá vou eu, feito um centauro, rumo ao portão, e quase sempre sou o primeiro a embarcar.
Em 28/1, publiquei aqui uma crônica em que ironizava o uso da expressão "melhor idade" para definir os maiores de 60 anos. Entre outros privilégios dessa idade, citei o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a queda de cabelo, a obesidade e as disfunções sexuais. Intitulei-a "Prazeres da 'melhor idade'".
Um leitor achou de transcrevê-la e ampliá-la a seu jeito. Na verdade, triplicou-a de tamanho, usando chulices que não costumo empregar, e alterou o título para "Melhor idade é a p.q.p." (por extenso). Assinou-a com meu nome e disparou-a pela internet. De vez em quando, recebo-a de amigos, com cumprimentos pela ideia, e eles parecem desapontados quando digo que é uma fraude.
Assinar o que não se escreveu é pior que sofrer do lumbago alheio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário