O GLOBO - 14/11
A superação de obstáculos que dificultam a expansão dos investimentos no setor depende de planejamento e conjugação de esforços públicos e privados
Uma invenção americana do fim dos anos 30, aparentemente simples, o contêiner (a expressão “cofre de carga” não se tornou usual, e a palavra inglesa acabou aportuguesa), contribuiu para revolucionar o transporte marítimo. Até mesmo cargas típicas de graneleiros chegam hoje a ser transportadas dentro desses grandes cofres. O transporte em contêineres agilizou embarques e desembarques nos portos, em um processo de crescente automação. Técnicas e sistemas de computadores foram desenvolvidos para empilhamento de até sete cofres nos pátios dos terminais, com rápida identificação e retirada, para posicioná-los no porão ou no convés do navio, dependendo das próximas escalas das embarcações.
Esse avanço possibilitou o aumento do tamanho dos navios, que hoje têm capacidade de transportar milhares de contêineres em uma única viagem. As embarcações hoje estão limitadas, na verdade, à largura máxima de alguns canais (como o de Suez ou o do Panamá). Um único navio substitui milhares de caminhões ou dezenas de trens. Com isso, houve um salto de produtividade que, de alguma maneira, se refletiu na expansão do comércio doméstico e internacional, com reflexos positivos sobre todas as economias. Muitos bens se tornaram acessíveis a consumidores que nem sonhavam em poder adquiri-los.
Essa expansão, por sua vez, exigiu ampliação dos terminais portuários e das áreas de armazenamento. Os canais de acessos aos portos precisaram ser aprofundados e alargados para passagem simultânea de grandes navios em sentidos inversos. Os acessos terrestres aos terminais se tornaram um enorme desafio, pois muitas vezes cruzam zonas urbanas adensadas, e é preciso evitar que o tráfego crescente de caminhões e comboios ferroviários tumultuem o já congestionado trânsito das cidades.
A superação desses obstáculos depende de uma conjugação de investimentos públicos e privados, dentro de um planejamento que integre os modais de transportes no presente e não deixe de olhar também para o futuro. Investimentos em infraestrutura geralmente precisam andar na frente da demanda de serviços, mas sem imobilizar o capital investido a ponto de comprometer o retorno em proporções adequadas.
É esse o contexto no qual se aguarda o prometido programa de estímulos aos investimentos no sistema portuário brasileiro. A fase em que era possível avançar rapidamente, por conta dos incríveis atrasos do setor no Brasil, já foi superada. Novos avanços dependerão de aprimoramentos mais sofisticados na própria regulação. O papel do setor público, especialmente das companhias docas, terá de ficar mais claro, com as funções técnicas prevalecendo sobre as interferências políticas que tanto prejudicaram essa atividade. A definição desses marcos regulatórios será fundamental para atrair os necessários investidores privados que poderão impulsionar o setor.
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