quarta-feira, novembro 14, 2012
O mercado do livro na era da tecnologia - EDNILSON XAVIER
O Estado de S.Paulo - 14/11
Vivemos na era do conhecimento e da informação. Opções eletrônicas para a leitura, como o E-book, o Kindle, o Reader, entre outros formatos, já estão no dia a dia dos novos leitores, que crescem convivendo com as tecnologias de última geração e não têm dificuldades com o novo. Para os pessimistas, o livro impresso e o exercício do livreiro estariam com os dias contados, quase uma visão apocalíptica do fim dos tempos. Mas o livreiro é persistente e não é nesse cenário que ele acredita.
A Associação Nacional de Livrarias (ANL) tem trabalhado incansavelmente nestas discussões, que representam grande avanço na democratização do acesso ao livro e, consequentemente, na ampliação do público leitor em nosso país. Entretanto, temos consciência de que para o mercado livreiro os desafios são muitos e os impasses, ainda maiores. É urgente envolver cada vez mais os livreiros independentes nas políticas públicas de incentivo ao livro e à leitura, assim como nas ações que estejam ao seu alcance. Precisamos incentivar as livrarias, principalmente as pequenas e médias, já que são elas que privilegiam o livro como seu principal produto de venda.
Embora o segmento livreiro apresente crescimento nos últimos anos, a ANL detectou, durante o seu Levantamento Anual do Segmento de Livrarias de 2011, que esse aumento foi inferior à inflação, demonstrando, entre outras razões, a real queda no preço final do livro. No Levantamento, identificou-se também que 21,88% das livrarias brasileiras têm um faturamento anual menor do que R$ 1,2 milhão, ante os 32,35% apresentados em 2010 - um reflexo direto do fechamento das pequenas livrarias (com até duas lojas) no Brasil. Já a faixa de R$ 1,2 milhão a R$ 9,6 milhões passou de 29,41% para 34,88% das livrarias, identificando a expansão nas redes de até cinco lojas.
Acreditamos que cada vez mais o livreiro reconheça que as livrarias brasileiras, assim como no mundo, passam por um período de grande transformação. Acompanhar e adotar as novas tecnologias é um dos caminhos. O livro físico não desaparecerá das prateleiras das livrarias, mas o eletrônico, rapidamente, estará presente em nossa vida e caminhará paralelamente ao livro físico, sem sombra de dúvida.
Sabemos do risco de fechamento de livrarias de pequeno e de médio portes, por causa principalmente da concorrência desleal, provocando uma concentração ainda maior do setor. Isso nos leva à compreensão de que não serão os livros eletrônicos e as novas tecnologias os nossos principais predadores. Nos últimos anos, temos presenciado o fechamento de livrarias tradicionais, que, segundo nos mostra o Levantamento, têm o livro como seu principal produto (entre 80% e 90% de seu faturamento) e que não conseguiram derrotar a concorrência predatória. Mas também identificamos um amadurecimento do setor: um total de 90,91% dos livreiros entrevistados deverão investir em outros segmentos de seus negócios até o fim de 2012, um aumento de 12,78%, comparativamente ao ano de 2011.
As livrarias brasileiras, como formadoras de leitores, podem, em suas atividades, transcender a venda passiva do livro: elas já são verdadeiros centros culturais e de entretenimento, prestadoras de serviços e ampliam seus ambientes para outros produtos correlatos, sem descartar sua missão principal, que é a de fomentar a leitura. Dessa forma, elas podem, sim, voltar a ganhar espaço em localidades mais distantes, tornando-se agentes transformadores de uma triste realidade: a falta do hábito de ler.
Entendemos que a atuação do livreiro, como agente literário, possa contribuir e muito para melhorarmos bastante nossos precários índices de leitura. Para isso é preciso que todos os que participam da cadeia produtiva e criativa do livro valorizem a livraria de seu bairro, da sua cidade, e enxerguem nela a possibilidade de formar novos leitores.
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