FOLHA DE SÃO PAULO - 19/10
SÃO PAULO - Disputas eleitorais parecem roubar a hombridade dos candidatos. Se Fernando Haddad e José Serra fossem um pouco mais destemidos e não tivessem transformado a busca por munição contra o adversário em prioridade absoluta de suas campanhas, estariam ambos defendendo a necessidade do kit anti-homofobia, como aliás fizeram quando estavam longe dos holofotes sufragísticos, desempenhando funções executivas.
Não é preciso ter o dom de ler pensamentos para concluir que, nessa matéria, ambos os candidatos e seus respectivos partidos têm posições muito mais próximas um do outro do que da do pastor Silas Malafaia ou qualquer outra liderança religiosa.
Não digo isso por ter aderido à onda do politicamente correto. Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos. Acredito que clérigos e skinheads devem ser livres para dizer o que pensam a quem esteja interessado em ouvi-los. Se não gostam de homossexuais, julgam sua conduta pecaminosa ou mesmo escandalosa, não devem ser impedidos de manifestar essas ideias. Mas, se o Estado democrático é obrigado a respeitar e salvaguardar a liberdade de expressão, isso não significa que ele deva aceitar passivamente qualquer coisa.
O poder público não só pode como deve promover valores republicanos, e um bom lugar para fazê-lo é a escola. Assim como se deseja que professores guiem os alunos pelos fundamentos da álgebra, espera-se que ensinem também as bases do Código Penal, que proíbe agressões, e os rudimentos da civilização, segundo os quais as preferências sexuais de uma pessoa não afetam sua cidadania nem lhe subtraem direitos.
Se há grupos que não gostam desse discurso, podem contestá-lo com palavras. Pelo menos em teoria, jovens, à medida que crescem, vão se tornando mais capazes de comparar argumentos e tirar suas próprias conclusões. É a democracia em ação.
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