O Globo - 19/10
É auspicioso o governo da Colômbia e as Farc terem concordado em discutir um acordo de paz e que, após o encontro inicial, em Oslo, tenham firmado uma declaração conjunta em que confirmam o início das negociações para 15 de novembro, em Havana, adiantando que o "desenvolvimento agrário integral" será o primeiro tema da agenda.
O momento é propício. O presidente Juan Manuel Santos tem credibilidade porque, como ministro da Defesa, foi o executor da política de tolerância zero com a guerrilha do presidente Alvaro Uribe, com forte apoio dos EUA. As Farc sofreram duros golpes militares e forte desgaste político. Vários de seus mais importantes líderes morreram nos últimos anos e o efetivo, que chegou a 18 mil homens, caiu à metade. Este ano, as Farc anunciaram o abandono dos sequestros para extorsão e libertaram os últimos dez militares em seu poder, embora conservem centenas de civis nesta condição.
As Farc foram fundadas em 1964 por Pedro Antonio Marín, codinomes Manuel Marulanda ou Tiro Certeiro, com o objetivo de implantar um estado marxista-leninista na Colômbia. Não ia longe a vitória dos guerrilheiros de Fidel Castro sobre uma ditadura corrupta em Cuba e, em plena Guerra Fria, a URSS superpotência servia de inspiração para ideólogos, intelectuais e militantes de esquerda, que sonhavam com o fim do capitalismo.
A organização cresceu muito com dinheiro de sequestros, mineração e narcotráfico. Adepta do mote de que os "fins justificam os meios", precipitou a Colômbia numa guerra civil, com ações terroristas de todo tipo. Os quase 50 anos de embates com o Exército e ataques à população, somados à violência de grupos paramilitares de direita, fizeram, segundo o governo, mais de cinco milhões de vítimas, entre deslocados internos e pessoas assassinadas (600 mil). O país esteve à beira do caos, principalmente quando o presidente Pastrana (1998-2002) cedeu à guerrilha um território com o tamanho aproximado da Suíça.
Há questões muito difíceis para os negociadores, entre elas a entrega dos reféns, o desarme da guerrilha, a punição para autores de crimes de sangue, a reinserção dos militantes na sociedade, a indenização de milhares de vítimas de deslocamento forçado, sequestro, violência sexual e minas espalhadas pelo país.
O início do diálogo e a perspectiva de paz são bons para a Colômbia, para a América Latina e para o mundo. Pesquisa do jornal "El Tiempo", de Bogotá, indicou que 74,2% dos colombianos apoiam as negociações. É muito importante que chegue ao fim esse conflito, que ainda é referência para setores da esquerda latino-americana, inclusive em Brasília. Se as Farc têm um projeto para o país, que saiam da clandestinidade e vençam eleições. É preciso ficar no passado o projeto de tomada do poder a qualquer custo.
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