FOLHA DE SP - 19/10
O ex-ministro Palocci voltou à cena nesta semana. Será que o jogo está tão nos finalmentes quanto parece?
AQUI QUEM fala é Carlos Henrique Gouveia de Mello. Sonoro o meu nome, não? Não foram meus pais que me deram, eu mesmo escolhi.
Você me conhece e me teme pelo meu nome real, José Dirceu de Oliveira, que eu tive de esconder até da minha mulher. Muitos dizem que essa omissão é evidência de falta de caráter. Mas eu não queria ver minha companheira exposta nem perseguida desnecessariamente.
É óbvio que não cheguei até aqui por ser temperado e minha maior qualidade não é a mansidão. Eu nunca cedi nas convicções. No PT, nós sabíamos que, chegando ao poder, encontraríamos, na base aliada, uma estrutura viciada de distribuição de cargos e verbas e nomeações em estatais e gente querendo liberar verba do BNDES. Eles impõem condições até para pedidos singelos como fotos posadas ao lado do presidente, vê se pode? Nosso sistema é viciado demais e a Constituição não ajuda.
Resolvemos, comigo à frente das operações na Casa Civil (a vida partidária ensina e renova a modéstia, sabe?), inovar na forma de tratar. Decidi que, em vez de distribuir estatais para um partido e secretarias para outro, cumprindo manjadas práticas de toma lá dá cá, fazer a coisa do meu jeito.
Achei mais interessante começar a trabalhar no atacado e a ir pagando os interessados ao mês. Ou seja, em vez de retribuir apoio político espedaçando a máquina, nós estávamos dispostos a desembolsar dinheiro. Achamos que sairia mais em conta. Em vez de administrar ganância, nós agilizaríamos a agenda com valores prefixados para que cada aliado votasse ao nosso lado. E usaríamos os cargos à disposição para preencher com nossos próprios quadros. Chamam a isso de "aparelhagem", mas, ué? A população nos elegeu para governar ou para acomodar o PMDB em tudo que é empresa do governo?
Ocorre que meu pragmatismo foi de encontro aos interesses de certos macacos velhos, não é mesmo, sr. Roberto Jefferson? Que garantia eles teriam de que a mesada pingaria todo mês? Afinal de contas, emprego público é vitalício, poder de nomear, entrada nos Correios -que maravilha!- uma vez conquistada, ninguém reverte. Mesada, não, acabou o mandato, c'est fini!
Errei ao não calcular a infinitude do apetite da base aliada e sua mentalidade de capitania hereditária. Esqueci a lição deixada por Collor e PC Farias. Foi quando o presidente Collor se isolou e parou de ouvir a classe dominante, os partidos aliados e depois ainda inventou de demitir funcionário público que a coisa fedeu de vez para ele.
Acusam-me de corrupção ativa, mas eu queria saber onde está a diferença entre o que fomos acusados de sugar do Estado e o que foi levado pelos mensaleiros. Onde? Por acaso o Genoino fez um puxadinho na casa dele no Jardim Bonfiglioli?
Roberto Jefferson, sempre guloso, mesmo depois da cirurgia bárica (hoje vejo que, se não fosse ele, seria outro), queria mais.
Com o escândalo, acertos tiveram de ser feitos para manter a institucionalidade do país intacta. O tal "acordo de porteira fechada" saiu caro. Muito mais do que qualquer mensalão ou segundo mandato. E ainda está custando. A substituição de oito ministros de Dilma é só um exemplo do preço da brincadeira.
E para quem acha que agora chegou minha vez de pagar, vale lembrar que o ex-ministro Palocci voltou à cena nesta semana. Pois é, o jogo está apenas começando.
Até breve,
Zé.
Um comentário:
Então vemos a face do monstro [PT], e descobrimos que a politicagem tem seus métodos aprimorados ao passar dos tempos, mas sempre desnudos pela ganância. Brasil um país de quem?
Ricardo Ramos de Almeida
Barueri
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