FOLHA DE SP - 19/10
RIO DE JANEIRO - Nesta semana, sempre a horas mortas, uma moça tomou banho nua na praia do Flamengo e dois casais foram vistos fazendo sexo nas areias de Ipanema e do Leme. Um dos casais e a moça foram fotografados e, sabe-se lá por que, ganharam o noticiário. É verdade que nosso liberalismo ainda não contempla o ato sexual em público, mas a diferença entre a nudez da garota e a de algumas estrelas do Carnaval estava em que ela -por sinal, nada má- não usava salto alto. E desde quando sexo na praia é novidade no Rio?
Ao contrário. Ele era a solução no tempo em que ainda não existiam os motéis, e muitos casais não queriam submeter-se aos hotéis sórdidos, que só trocavam os lençóis em último caso. A praia, como a do então distante Leblon, à noite, era segura, deserta, deliciosamente mal iluminada e, exceto por algum guarda enxerido, com privacidade garantida. Os problemas eram o desconforto e a areia, donde a expressão -ponha aí anos 50, 60- sexo à milanesa.
A alternativa, para os poucos que tinham carro, era assistir às "corridas de submarino" -uma modalidade esportiva noturna, praticada por casais na orla do Arpoador ou do Castelinho, com os vidros fechados e embaçados. Nunca se viu um submarino ao largo, mas a prática era tão aceita que uma Kombi do Geneal ficava de plantão nas proximidades, com seu insuperável cachorro-quente.
Em 1969 ou 70, o romantismo da praia à noite e da "corrida de submarino" foi substituído pelo profissionalismo dos motéis, com seus tetos espelhados, camas redondas e risco zero. Os nativos se habituaram, e assim é até hoje. Donde os protagonistas do recente açodamento nas areias devem ser turistas (e só uma turista desinformada entraria nua nas águas de uma praia de baía, como a do Flamengo).
Desinformados, mas, quero crer, estouvadamente românticos.
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