SÃO PAULO - O caderno "Equilíbrio" trouxe na última terça uma reportagem sobre a depilação total dos pelos pubianos, que vem ganhando adeptos no mundo. O interessante aqui é que a moda, ou melhor, a cultura está dando continuidade a um processo iniciado pela própria natureza mais de 200 mil anos atrás.
Um mistério sempre intrigou os biólogos: por que o homem, ao contrário da grande maioria dos mamíferos, perdeu quase todos os seus pelos?
Várias respostas erradas foram esboçadas, como evitar a desidratação (na verdade, a cobertura capilar a previne) e maior facilidade para nadar (exceto por Esther Williams, nunca fomos uma espécie aquática).
Nos últimos anos, no embalo das interpretações ecologicamente holísticas, vem ganhando aceitação a tese de que a devastação tríquica foi uma forma de nos livrarmos de piolhos, carrapatos e pulgas e das inúmeras doenças por eles transmitidas.
Se a hipótese é correta, por que outros primatas conservaram sua pelugem? O biólogo Rob Dunn sugere algumas possibilidades. Para começar, os grupamentos humanos eram mais densos e ainda desenvolvemos a mania de dormir em cavernas, o que magnificava bastante o estrago provocado pelos ectoparasitas.
Paralelamente, cerca de 200 mil anos atrás, aprendemos a tomar emprestado (não resisto ao eufemismo) o pelo de outras espécies, o que resolvia ao menos o problema do frio.
Em termos de implementação, a redução capilar se deu por meio de seleção sexual. Os indivíduos que achavam mais atraentes pares do sexo oposto com poucos pelos se deram bem (pegaram menos doenças como praga, tifo e encefalites) e transmitiram essa "tara" a seus descendentes. Pelado passou a ser "sexy".
Esse mesmo mecanismo de aversão a moléstias trazidas por ectoparasitas também pode explicar sentimentos menos nobres, como a aversão por estranhos, que é o avô da xenofobia e do racismo.
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