O GLOBO - 29/01/12
Para quem não aguenta mais as notícias ruins da economia mundial, apareceu uma voz otimista. É a de Jim O''Neill, o economista da casa bancária Goldman Sachs que, em 2001, cunhou o acrônimo Bric. Ele chamava atenção para a emergência das economias de Brasil, Rússia, Índia e China. Hoje, acredita que o mundo vive "os primeiros anos de algo que provavelmente será o maior deslocamento de riqueza e das desigualdades de renda da História". O motor do progresso serão os Bric, mais o grupo dos "Próximos Onze", os "N-11".
Seu principal argumento é o de que, no ano passado, a economia mundial crescia a 4% ao ano, contra 3,7% dos 30 anteriores. Numa ponta desse progresso estão os novos ricos. A BMW tem fila de espera na Alemanha porque a fábrica está atendendo a pedidos chineses. Na outra ponta, estão centenas de milhões de pessoas que saem da pobreza. Ele estima que em 2025 o Brasil terá mais carros que Alemanha e Japão juntos.
Num novo indicador, que reúne variáveis macro e microeconômicas, tais como telefones, Internet, computadores, respeito aos contratos, corrupção, estabilidade política, expectativa de vida e educação, em 2010 o Brasil ultrapassou a China e tomou-lhe o primeiro lugar.
O''Neill juntou suas previsões no livro "Growth Map" ("O Mapa do Crescimento - Oportunidades Econômicas nos Bric e Além Deles", com o e-book a US$ 14,99). Veterano da Goldman Sachs, estava lá em 2002, quando produziu-se na casa o "Lulômetro", um indicador terrorista que permitia estimar o preço do dólar se Nosso Guia fosse eleito. Passou o tempo e, depois de destacar que o Brasil saiu do atoleiro graças às reformas de Fernando Henrique Cardoso, ele coloca Lula como "o maior político do G-20 na primeira década do século".
O''Neill conta que em 2003, quando esteve em Pindorama, ouviu o seguinte de seu anfitrião: "Você só incluiu o Brasil porque tornava o acrônimo atraente". Não foi bem assim, uma testemunha do diálogo relembra: "Não sei se foi ele quem disse isso ou se, tendo ouvido o comentário, concordou". À época, O''Neill teria ficado em dúvida entre o Brasil e o México, mas Mric soaria como um grunhido. Ele reconhece que o "B" foi "a maior e a mais audaciosa aposta que fiz" e revela ter sido influenciado pela qualidade do futebol brasileiro. (Em 2002, numa brincadeira de futurologia esportiva, O''Neill estimou que o Brasil não chegaria à final da Copa da Ásia.)
Miami 2014
Durante as chuvas de verão que inundaram 137 municípios de Minas Gerais, matando 18 pessoas e desabrigando 47 mil, o senador Aécio Neves estava em Paris. No dia 17, de volta, visitou Ouro Preto.
Bateu pique e no almoço de domingo passado estava em Miami, no La Piaggia, acolhedora casa de pasto da orla, à qual pode-se ir com a roupa da praia. À mesa, tinha o secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Julio Lopes.
(Sérgio Cabral était a Paris, mas voltou antes do desabamento da Cinelândia.)
Não foi ele
A presteza com que a gestão do governador Geraldo Alckmin mobiliza a PM para higienizar a Cracolândia e despejar famílias provocou a ressurreição de uma frase maldita ("a questão social é um caso de polícia"), sempre atribuída ao presidente Washington Luiz.
Deposto em 1930 e malfalado durante todo o varguismo, o presidente não comia mel, comia abelha, mas não disse a frase que lhe é atribuída.
Ele escreveu o seguinte: "A agitação operária é uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem social; representa o estado de espírito de alguns operários, mas não o estado da sociedade".
Washington Luiz morreu em 1956, aos 87 anos e, por mais que reclamasse, não se livrou da urucubaca.
A lição de Bianca, a Carol da novela
Bianca Salgueiro, a Carol de "Fina Estampa", fez vestibular de Engenharia em duas universidades públicas (UFRJ e Uerj) e uma privada (PUC). Passou em todas, mas optou pela PUC, porque tem curso em meio período. As duas universidades públicas, com horários integrais, não permitem que o aluno trabalhe.
Assim, as escolas grátis, sustentadas pela Viúva, complicam o acesso para quem precisa ganhar o pão de cada dia. Já a universidade privada (e cara) permitirá a Bianca que continue sendo Carol.
Um exemplo para reflexão dos educatecas nacionais: até os anos 70, as dez universidades estaduais da Califórnia eram grátis. Quando o estado quebrou, passaram a cobrar. A de San Diego pede US$ 53 mil anuais para um curso de Engenharia que rende US$ 55 mil para o diplomado.
Os estudantes das escolas apresentaram uma proposta: não desembolsam nada durante o curso e, depois de formados, pagam 5% de sua renda anual durante 20 anos. Quem enriquece resolve o problema em menos tempo. O estudante que fica na Califórnia desconta 4,5%. Se vai para o setor público, ganha um rebate de mais 1%.
Implantes
Na segunda-feira, durante uma reunião no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, o doutor Afrânio Coelho de Oliveira, presidente da seção fluminense da Sociedade Brasileira de Mastologia, estranhou a estatística segundo a qual uma pesquisa revelou que o índice de ruptura dos implantes de silicone é de 26% depois de quatro anos, de 47% aos dez anos e de 69% passados 18 anos. Ele prontificou-se para apurar a origem desses números.
Tudo bem. A informação foi divulgada pela Sociedade Brasileira de Mastologia no dia 7 de janeiro, numa "nota à população sobre próteses mamárias francesas da marca PIP", e colocada no seu portal, onde podia ser lida na semana passada.
A nota informava que se tratava de "um estudo amplo com mais de 10 mil mulheres, publicado em 2002".
Se os doutores não sabem o que colocam nas suas notas à população, vá se saber o que colocam no corpo de suas pacientes.
PSTU
O comissariado petista deu-se conta de que as encrencas do PSTU vieram para ficar.
Em 2010, o Partido Socialista dos Trabalhadores disputou com candidato próprio a eleição presidencial e teve 84 mil votos.
Saiu mais caro
A área ocupada pelos invasores de Pinheirinho, equivalente a 180 campos de futebol, corresponde a menos da metade da propriedade da massa falida da qual o financista Naji Nahas era sócio.
O município de São José dos Campos poderia ter negociado uma mudança no plano diretor da cidade, alterando as exigências de ocupação da área. Feito com toda a transparência possível, esse mecanismo permitiria a doação da gleba conflagrada e sua consequente urbanização.
Responsabilidade
Sempre que ocorrem os desastres das enchentes, governadores e prefeitos dão um jeito de incluir as vítimas entre os responsáveis.
Com o desabamento de três edifícios nos fundos do Theatro Municipal, a conta não poderá ser transferida para as vítimas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário