FOLHA DE SP - 29/01/12
Os meios de comunicação americanos demonstraram alívio, se não alento, com a notícia de que o crescimento da economia de seu país foi mais acelerado no fim de 2011.
Tendo em vista que ainda em meados do ano se temia a volta da recessão, algum otimismo é compreensível. Mas os EUA cresceram só 1,7% no ano passado. Prevê-se que, no melhor dos casos, não cresçam mais que 2% neste ano.
A maior economia do mundo cresceu menos que 1% acumulado desde o final de 2007 (houve crescimento negativo em 2008 e 2009). O rendimento médio dos trabalhadores foi reduzido outra vez, fato agravado pela tendência, de décadas, de aumento da desigualdade.
O relativo empobrecimento reflete-se na alta acanhada do consumo verificada, mesmo no remediado trimestre final de 2011, o que prejudica a retomada do investimento, também diminuta.
Não bastassem tais indicadores ainda preocupantes, o banco central dos Estados Unidos, o Fed, anunciou na quarta-feira passada que pretende manter sua política de juro zero até 2014.
É fácil deduzir, portanto, que o Fed não prevê um reaquecimento relevante da atividade produtiva nos próximos dois anos, pelo menos. Tanto que deixou aberta a possibilidade de ainda mais relaxamento monetário por meios heterodoxos. Isto é, a compra de ativos financeiros ora em poder do mercado, o que na prática injeta mais dólares na economia e se chama coloquialmente de "impressão de dinheiro".
O Fed tem, de modo recorrente, reclamado o auxílio do governo na tarefa de estimular a economia. Os governos americanos, da esfera municipal à federal, no entanto, têm contribuído para enfraquecer a recuperação, dados os maciços cortes de gastos.
No âmbito federal, verificam-se ainda extremados conflitos entre Executivo e Congresso, além da letargia na Presidência. O tumulto político redunda em aumento de incerteza para os agentes econômicos e cria empecilhos para a implementação de qualquer programa coerente de estímulo.
Decerto a situação americana é melhor que a da zona do euro, cujo nível de produção deve voltar ao nível de 2007 apenas em 2014.
O efeito combinado dessas crises será sem dúvida relevante para o Brasil. De imediato, a longa e ainda duradoura crise euroamericana nos impõe novos problemas, para a indústria em particular, entre outras razões por favorecer a renitente valorização do real.
Além disso, a crise no mundo desenvolvido aumenta a dependência brasileira da China, que vive também um período tenso. Em suma, a longa crise estreita os caminhos possíveis do nosso crescimento.
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