O ESTADÃO - 29/01/12
Se você, leitor, sente-se desencantado em alguns momentos com os rumos da televisão aberta, sugiro que busque novas opções na TV Cultura, mesmo que tenha, eventualmente, optado pela TV por assinatura - que, aliás, tem crescido mais de 20% ao ano e já alcança 45 milhões de telespectadores no País.
Acho que você vai gostar da TV Cultura, leitor, com as diversas mudanças desta nova fase. Comece pelo Jornal da Cultura, às 9 da noite, com a âncora Maria Cristina Poli. Muito mais do que outros noticiários, esse telejornal consegue inovar em busca de um padrão de informação mais completo e democrático, apoiado muitas vezes em matérias didáticas bem produzidas e equilibradas.
E conta ainda com a participação de debatedores de alto nível, que se revezam de segunda a sexta-feira. Eles têm coragem de dar opinião, embora quase sempre alfinetados por telespectadores, pelo twitter.
A boa música. Nos fins de semana, a música clássica ganha muito mais espaço na Cultura, com documentários e concertos de renomados solistas e orquestras internacionais ou da própria Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
A excelente cobertura do Festival de Campos do Jordão, em julho, foi concluída com o Concerto para Violino de Beethoven, interpretado e regido por Pinchas Zukerman. O novo programa, Pré-Estreia, promoveu seu primeiro concurso de música erudita e revelou candidatos de talento de todo o País.
O Roda Viva, programa de entrevistas de maior prestígio da TV brasileira, foi reformulado, com mais debatedores. O Metrópolis, sobre artes e espetáculos, com Cadão Volpato, está ainda melhor. O Café Filosófico é um modelo de TV cultural, com escritores e professores que focalizam temas de grande atualidade.
Confesso, leitor, que gosto muito da música brasileira autêntica de Inezita Barroso, no Viola Minha Viola, e de Rolando Boldrin, no Sr. Brasil. Não perco nenhum Ensaio, que nos permite reencontrar compositores e cantores populares da MPB.
Na área de esportes, o Cartão Verde se tornou de longe o melhor programa do gênero da TV brasileira (que saudade do Magrão Sócrates).
Quatro canais. Com os recursos da TV digital, em especial os da multiprogramação, a Fundação Padre Anchieta opera desde 2009 três canais públicos culturais: Cultura (2.1), Univesp (2.2) e Multicultura (2.3).
Há ainda um quarto canal, a TV Rá Tim Bum, de programas infantis, que faz parte do cardápio das operadoras de TV paga. Tem 3,5 milhões de assinantes. Aliás, há muitos anos a programação infantil da TV Cultura vem conquistando diversos prêmios internacionais.
No canal 2.2 digital, concretiza-se o projeto de uma universidade aberta com programação fornecida pelas universidades paulistas da Univesp (Universidade Virtual de São Paulo). Além de aulas e palestras de grande atualidade e interesse cultural, esse canal apresenta entrevistas sobre temas científicos, conduzidas pela jornalista Mônica Teixeira. Exibe ainda excelentes documentários da BBC (British Broadcasting Corporation) e do PBS (Public Broadcasting Service) americano.
O terceiro canal (2.3), Multicultura, oferece uma seleção variada dos melhores programas musicais, culturais e de entretenimento, inclusive coisas preciosas do acervo da emissora, como as entrevistas de Ayrton Senna, Dercy Gonçalves, de escritores e políticos ao Roda Viva.
Um show na web. Se você quer ter uma amostra do alcance das mudanças ocorridas na TV Cultura, visite o novo site da emissora (www.tvcultura.com.br) e explore tudo que existe ali sobre os quatro canais, a grade de programação de cada um e uma seleção dos melhores programas e produções próprias (as chamadas Pratas da Casa), os documentários jornalísticos (como Matéria de Capa) e o site C+ (http://cmais.com.br) sobre programações especiais.
Reveja no site da Cultura os últimos programas Roda Viva ou edições históricas, como a entrevista de Orlando Villas-Boas.
Balanço. É claro que ainda há muita coisa a ser melhorada. Acho, no entanto, que a Cultura está no caminho certo e poderá tornar-se a primeira grande TV pública do Brasil, pois já oferece informação independente e programas culturais e de entretenimento de qualidade. E mais: poderá ser a grande opção para milhões de crianças, jovens, estudantes e cidadãos autodidatas, interessados em aprender sempre.
Desde sua chegada em junho de 2010, como presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad levou para a entidade, acima de tudo, um novo projeto de gestão, que já elevou a produtividade, com a eliminação de mais de R$ 75 milhões anuais em gastos e contratações não essenciais de pessoal. E já resolveu a maior parte dos crônicos problemas trabalhistas da Fundação.
E a TV aberta? É inegável que a TV comercial brasileira caiu no gosto popular. E, na verdade, ela produz muita coisa de qualidade, como as novelas e minisséries de padrão mundial, os telejornais sempre mais críticos e excelentes coberturas esportivas.
Mas tem também coisas horríveis e degradantes, como os reality shows, os programas popularescos de auditório ou os shows de notícias policiais sensacionalistas. A busca pela audiência parece tornar-se tão obsessiva que não encontra limites éticos.
Nessa hora, refugio-me na TV Cultura.
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