quarta-feira, maio 13, 2009

CLÓVIS ROSSI

A gritaria, a crise e Carla Bruni

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/05/09

SÃO PAULO - Moisés Naím, editor da revista trimestral "Foreign Policy", usou como título para sua coluna dominical em "El País" (Espanha) "Sexo, Clooney e Berlusconi". Mas não falou nem de sexo, nem do ator norte-americano, nem do premiê italiano.
Falou do Paquistão, o ponto mais quente do planeta hoje em dia. Para que, então, esse título nada a ver?
Porque foi a única maneira que Naím achou de chamar a atenção do público para um tema árido, nestes tempos em que a cacofonia de informações é colossal e é monumental a pressa para antecipar o fim do mundo (ou o início do mundo, ou qualquer outra coisa, importante ou irrelevante).
Tentar pensar, o que exige certo vagar, ficou complicado. Ser, ainda por cima, obrigado a gritar para ser ouvido é ainda mais complicado.
Tome-se o caso da crise econômica. Tem um mundo de gente louca para gritar que o pior já passou, que já há uma incipiente recuperação ou que nos países ditos emergentes é possível até começar nova onda de euforia.
Há também gente pronta para gritar o exato oposto.
O pior é que há dados da vida real que podem amparar tanto a teoria do reinício da vida como a do rigor cadavérico. Exemplo de ontem, só no caso da China: os investimentos urbanos aumentaram 30,5% nos quatro meses até abril em comparação com o ano anterior. Tudo resolvido, então?
Não, porque "as exportações chinesas caíram agudamente em abril pelo sexto mês consecutivo, sugerindo que o pior pode não ter passado ainda para a terceira maior economia mundial", diz o "Financial Times". Aliás caíram não só as exportações (22,6%) como as importações (23%).
Ou seja, o panorama ainda é ambíguo demais para certezas. É preciso dar um tempo, mas quem escreve algo assim precisa pôr Carla Bruni no título. Ou ninguém lê.

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