O GLOBO - 14/02
Vândalos homicidas de aluguel e leniência constante com atos criminosos de organizações ditas sociais são fatos de mesma origem, o desprezo pela democracia
A declaração de Jonas Tadeu Nunes, advogado dos black blocs Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, de que há entre políticos e partidos um esquema de recrutamento pago de manifestantes pode muito bem ser tática de defesa dos clientes. Pois assim, eles poderão ser enquadrados em penas mais leves, a partir de mudanças técnicas na denúncia.
Mas, seja como for, tudo leva a justificar uma séria investigação policial, inclusive de organismos federais, sobre o que pode esconder a onda de vandalismo, principalmente em Rio e São Paulo. Sempre ressalvados seus interesses profissionais, o advogado sugeriu atenção a “diretórios regionais de partidos políticos, vereadores, determinados deputados estaduais.”
Fortalece a necessidade deste trabalho das polícias a confissão de Caio à TV Globo, logo depois de ser preso, na Bahia, de que teme ser morto por esta possível indústria de manifestações violentas.
O primeiro depoimento de Caio à polícia civil fluminense, na noite de quarta, revelado pelo site do jornal “Extra”, reforçou a já imperiosa necessidade de que polícias, Ministério Público e Justiça deem prioridade ao levantamento do que de fato acontece nos bastidores desta onda de manifestações violentas. Ainda no depoimento, Caio confirmou o aliciamento de jovens para manifestações — em troca de R$ 150, segundo o advogado. Ele próprio foi um deles. O black bloc preso disse ter visto a compra de quentinhas para esses manifestantes terceirizados.
Disse, ainda, acreditar que os partidos cujas bandeiras aparecem nas passeatas são os que financiam o vandalismo. Citou PSOL, PSTU e FIP (Frente Independente Popular). PSOL e PSTU negaram com veemência.
Pelo menos no caso do PSOL, há a comprovada proximidade do gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo em relação a black blocs, por meio de assessoria jurídica para o caso de prisões.
Muito precisará ser esclarecido pelas investigações. Elas são cruciais, porque é perigosa para a democracia a promiscuidade entre políticos, autoridades e grupos radicais em semi-clandestinidade.
Esclerecedor que, enquanto transcorria a repercussão da prisão de Caio, em Brasília, o MST, um dos "movimentos sociais" de livre trânsito no governo, inclusive no Tesouro Nacional, ameaçava invadir o Supremo, algo de extrema gravidade pelo simbolismo. Pois o Supremo, na condenação de mensaleiros, estabeleceu um limite, em nome da Constituição, a forças políticas desestabilizadoras da democracia representativa. O ato do MST foi um ataque ao estado de direito, ao estratégico papel da Justiça na proteção das liberdades.
E mesmo assim, a presidente Dilma aceitou recebê-lo no Planalto. Passo em falso. Tropas de vândalos homicidas de aluguel e leniência constante com atos criminosos de organizações ditas sociais são fatos que têm a mesma origem, o desprezo pela democracia.
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