O Estado de S.Paulo - 14/02
O Movimento dos Sem Terra (MST) tem uma história de 30 anos permeada de invasões e atos de violência, mas é a primeira vez que tenta peitar instituições democráticas, como aconteceu nos tumultos praticados quarta-feira nas manifestações em Brasília. Já é, parece, o reflexo de um movimento esvaziado, sem discurso e sem rumo.
Ao contrário do que muita gente pensa, o MST é um movimento conservador. Nasceu em 1984 como fruto da Pastoral da Terra da Igreja Católica, em cuja órbita continua girando. Na prática, sua função social foi organizar e impor certa disciplina a camadas subempregadas na periferia das grandes cidades, graças a promessas de acesso à terra e práticas de liturgia de "enturmação".
Não faz sentido insistir nas denúncias do latifúndio improdutivo, como faz o MST. A presidente Dilma, cuja base de apoio político é liderada por um partido que sempre defendeu a reforma agrária, acaba de deitar louvação nos resultados da agricultura, que "em duas décadas aumentou em 221% a produção de grãos, com acréscimo da área plantada de apenas 41%". Independentemente da exatidão desses números, este não é o resultado da atuação só de grandes empresas. A agricultura familiar capitalizada e detentora de tecnologias de ponta em preparo da terra, seleção de sementes, plantio, irrigação, colheita, armazenamento e práticas financeiras avançadas, também tem muito a ver com isso.
A tal "produtividade na veia" a que se referiu a presidente Dilma acontece na agropecuária, e não nos assentamentos. Hoje, o setor coloca no mercado quase 200 milhões de toneladas de grãos que, em mais dez anos, deverão ser alguma coisa entre 300 milhões e 400 milhões de toneladas.
Não foi apenas o sucesso do agronegócio que esvaziou o MST. Também os governos do PT trabalharam diretamente para isso, na medida em que promoveram farta distribuição de bolsas família e tiraram impulso das lutas pelo acesso à propriedade de um pedaço de terra e por um posto de trabalho. Ficou comprovado que o desemprego se resolve com crescimento econômico, e não com reforma agrária.
As próprias análises internas do MST reconhecem que o Programa Bolsa Família e o aumento do emprego atrapalharam os planos dos seus dirigentes. Eles agora acusam o governo de traição à causa e de conluio com a bancada ruralista. Parecem incapazes de reconhecer que os projetos de reforma agrária não mais farão parte da agenda de prioridades de nenhum governo, seja qual for sua coloração ideológica.
Os líderes do MST não têm clareza sobre seu próprio futuro. Como não conseguiram emplacar seus projetos originais de redistribuição de terras, aderiram a um ambientalismo confuso e, em nome dele, se puseram a destruir plantações de laranja, de eucalipto, de cana-de-açúcar e de canteiros de pesquisas agronômicas, sob a argumentação de que toda cultura extensiva, especialmente a obtida a partir de sementes geneticamente modificadas, envenena as pessoas e o meio ambiente e destrói a agricultura tradicional.
Em todo o caso, mesmo em decadência e sem perspectivas, o MST ainda tenta invadir o Palácio do Planalto e consegue suspender uma sessão do Supremo, como aconteceu quarta-feira.
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