FOLHA DE SP - 20/02
SYDNEY - É uma pena, por vários motivos, que Guido Mantega tenha desistido de vir a Sydney, na Austrália, para a reunião de ministros da Fazenda e de presidentes de bancos centrais do G20, grupo das maiores economias do planeta.
O ministro tem lá boas razões, porque o Orçamento é prioritário, mas ele perde a chance de participar de um interessante momento de transição do G20, que diz respeito diretamente ao Brasil.
Se o foco vinha sendo sobre a crise dos ricos, que os EUA produziram e exportaram para a Europa e para o mundo, a situação agora parece bem outra. Os EUA estão se recuperando, a Europa aparentemente parou de cair e quem está sob suspeita são justamente os emergentes. Com destaque para os que vêm sendo chamados de os "cinco frágeis". Justo ou injusto, o apelido colou.
São eles Brasil, Indonésia, África do Sul, Índia e Turquia, cujas moedas têm sofrido uma pressão crescente e sem fim à vista. Note que, dos cinco, três são dos tão badalados e até bem pouco tempo muito promissores Brics: o próprio Brasil, a Índia e a África do Sul.
A lista dos "frágeis" não inclui economias que não chegaram a empolgar e já vinham trôpegas, como a Argentina, que vai de mal a pior, e a Venezuela, que vai de pior a péssimo. Inclui só as que vinham acontecendo e podem não acontecer mais.
O G20 existe exatamente para alargar as discussões e dar voz aos emergentes. Até aqui, eles falavam grosso com os países ricos atingidos pela crise. A partir de agora, vão ter de baixar o tom e ouvir mais. O momento é de prevenir, para não ter de remediar. Remédio para economia em crise é amargo de dar dó.
A pauta de Sydney e da nona cúpula do G20 (em Brisbrane, em novembro) foca emprego, em que o Brasil sai bem na foto, e infraestrutura, em que sai mal. Mas isso é detalhe. O fundamental para o grupo é justamente detectar e segurar crises. Ou seja, evitar novas surpresas.
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