O GLOBO - 16/01
Os detentores de maior capital simbólico não estão no palco, mas nos bastidores: Lula, Marina e Fernando Henrique
Os roteiros da sucessão presidencial estão sendo elaborados desde já. Diante das mudanças recentes de circunstâncias, a economia não deverá ocupar sozinha o foco dos roteiros. As campanhas e as narrativas vão ter que operar também no plano simbólico da política: poder simbólico de fazer ver e fazer crer. Estão e estarão em jogo visões de mundo. Produzindo novos discursos políticos. Ao fim e ao cabo, o teor do novo discurso que vai emergir dependerá de lutas simbólicas pelo poder simbólico.
Na economia, a disputa pelas melhores propostas para conservar e ampliar a sensação de bem-estar dos brasileiros e para reconquistar a confiança do empresariado e dos investidores estrangeiros, contendo a piora de percepção do Brasil. No discurso político, a luta simbólica por novas visões de mundo e a disputa pelo poder simbólico de fazer ver e fazer crer para transformar a visão de mundo e a ação sobre o mundo.
Trata-se de ter e conquistar capital simbólico: prestígio acumulado pela representação legítima das aspirações predominantes da sociedade. Os detentores de maior capital simbólico não estão no palco, mas nos bastidores: Lula, Marina e Fernando Henrique. Poderão eles “transferir” capital simbólico para os seus respectivos candidatos?
Para além das propostas racionais no campo da economia, a disputa pelas visões de mundo deverá trazer emoções e subjetividades. Falar para as mentes, mas também para as almas e para o imaginário social dos brasileiros. Reconstituir as narrativas e as mensagens. E demonstrar capacidade de convencimento, ter atitudes críveis, comunicar coragem de mudar, mostrar capacidade de concertação e apontar caminhos para a melhoria da governança do Brasil.
O país chega ao fim de um ciclo de estabilidade e inclusão. Agora é tempo histórico de construir nova Agenda. Qual vai ser? O ano de 2015 já está contratado: ajuste fiscal, qualidade dos serviços públicos, direção do desenvolvimento. Tudo isto resulta em geração de conflitos distributivos, em atingir fortes interesses estabelecidos. Exige muita coragem e, principalmente, muita legitimidade, vale dizer, muito capital simbólico e muito capital social.
Cuidar do pão com manteiga e, ao mesmo tempo, dos sonhos e projetos de vida e de país. No processo político-eleitoral, este ano; e depois, em 2015, na inauguração de novo governo. Novo governo que vai precisar produzir condições de concertação, condições de harmonização de grandes mudanças, muitas delas a serem pactuadas no Congresso, no Executivo, no Pacto Federativo e nos espaços de representação corporativa dos trabalhadores e dos empresários brasileiros.
Novo governo, também, que vai ter o desafio de repactuar e reorganizar as condições objetivas de governança, para possibilitar a melhoria da capacidade de entrega do governo e superar os sérios entraves e “gargalos” do processo decisório e do arcabouço institucional — inclusive a proliferação de órgãos de controle e fiscalização que não conversam entre si e que produzem um cipoal de mecanismos concorrentes e paralelos de controle. Para controlar o Leviatã, produziu-se no Brasil um novo Leviatã.
Os roteiros da sucessão presidencial precisam fazer o Brasil recuperar a confiança em si mesmo. Esta é a luta simbólica que está para ser feita, agora e depois.
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