O Estado de S.Paulo - 16/01
O PMDB tinha uma reunião de cúpula marcada para ontem à noite, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Michel Temer. O tema: a posição do partido na campanha eleitoral.
Seja qual tenha sido o resultado, boa coisa para a presidente Dilma Rousseff não foi. Estava fora de cogitação o rompimento radical, com migração do partido para outra candidatura presidencial, mas na pauta constava a possibilidade de aprovar a aliança formal deixando, na prática, cada Estado atuar de acordo com sua conveniência.
Havia quem defendesse também um gesto simbólico de dizer que não faz questão de ministério algum, entregar os já ocupados e continuar apoiando o governo "de graça". Os defensores desse ato dizem que seria uma reação à fama de fisiológico que o PMDB leva sem, segundo eles, desfrutar de fato das benesses governamentais.
A ruptura seria esdrúxula. Depois de oito anos de aliança formal, quatro deles ocupando cinco ministérios e mais a vice, ficaria difícil aderir à oposição. Ademais, Michel Temer quer continuar na vice-presidência. Aécio Neves e Eduardo Campos têm planos próprios para o lugar, e Dilma está na frente.
Mas a temperatura interna entre os pemedebistas chega ao ponto de fervura. Não gostam da relação com Dilma, não aceitam a "gula" do PT, desde o início do governo se sentem mal representados em ministérios desprovidos de instrumentos (leia-se dinheiro, visibilidade e obras) para "fazer política".
Para arrematar, consideram um acinte a recusa de devolver o ministério da Integração Nacional ao partido para ser entregue ao PROS a fim de premiar o governador do Ceará, Cid Gomes, que deixou a legenda de Eduardo Campos.
"Seria justo que nos devolvessem a pasta da Integração, de fundamental importância no Nordeste. Enquanto o PMDB perde espaço, o PT dispõe de mecanismos políticos para nos massacrar nos Estados", diz o líder na Câmara, Eduardo Cunha.
Não obstante venha aumentando o grupo no PMDB que defende a ruptura pura e simples, Cunha não vê essa hipótese como realista. Além da dificuldade de virar a casaca, há outra questão que impede a tomada de posições mais radicais: a situação difícil de José Sarney e Renan Calheiros.
Bons de pressão, ambos estão combalidos. Sarney por causa da crise no sistema prisional do Maranhão e a condução desastrosa da filha, governadora Roseana. Calheiros por ter usado avião da FAB para ir a Recife fazer implante de cabelos.
Então, o que fazer? A julgar pelo estado de espírito mais ou menos geral a saída é endurecer, perdendo também a ternura. Ser menos condescendente com o PT, tendo também em vista que, se Dilma for reeleita, não precisará mais tanto do PMDB e tende a piorar o tratamento dado ao partido no segundo mandato.
Objetivamente o que significa endurecer? O Rio de Janeiro é um exemplo. Com 10% dos votos na convenção nacional, a seção fluminense não abre mão da candidatura do atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão. O partido pode decidir largar Dilma de mão no Estado e cuidar exclusivamente da eleição local se o PT não desistir de concorrer.
Fazendo a seguinte conta: ela, que ganhou em 2010 com 1 milhão e 700 mil votos de frente, hoje tem 30% nas pesquisas. Significa que 70% estão contra. "Para nós é melhor disputar esse eleitorado do que dividir a faixa dos 30% com quatro candidatos", afirma Eduardo Cunha, referindo-se a Pezão, Lindbergh Farias, Marcelo Crivella e Anthony Garotinho, todos da base governista.
A hipótese de o PMDB ficar "solto" não é boa para Dilma, cuja situação eleitoral não é a mesma de 2010. Deve perder em Pernambuco para Eduardo Campos, em Minas para Aécio Neves e em São Paulo precisará ultrapassar o obstáculo da rejeição ao prefeito Fernando Haddad.
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