O GLOBO - 16/01
Juros incomodam, mas a inflação incomoda muito mais. Essa pode ter sido a convicção do Banco Central ao decidir manter o mesmo ritmo de alta, apesar de a maioria do mercado apostar que ele reduziria a dose. As apostas em redução do ritmo tinham mais a ver com a falta de confiança na autonomia do BC do que na análise da conjuntura. A inflação permanece alta e as expectativas pioraram.
A inflação do final do ano surpreendeu todo mundo. Até o BC. Natural que a ação continuasse sendo forte. Com a alta de ontem, esse ciclo de aperto já produziu um aumento de 3,25 pontos percentuais nos juros. A Selic começou a subir em abril, quando foi de 7,25% para 7,50%. De lá para cá, o Banco Central elevou a taxa sete vezes. É um forte aumento, mas a situação está mesmo complicada. E os juros ainda estão abaixo do ponto em que estavam quando o Copom começou a reduzi-los, em julho de 2011, quando estavam em 12,25%.
O remédio é amargo, vai sofrer críticas internas e externas, porém a inflação permanece resistente e só não estourou o teto da meta porque o governo reprimiu preço. Sem a queda da energia, o controle da gasolina do governo federal e a revogação dos aumentos de ônibus e metrô nos principais estados e cidades, o IPCA teria superado o teto. Inflação prorrogada um dia encontra o índice.
Portanto, o Banco Central fez bem, mas receberá agora as críticas de praxe. Num ano eleitoral, no entanto, o maior risco era deixar a inflação subir. E risco, bem entendido, não apenas para a presidente- candidata, mas para o país. A inflação está alta, alguns itens estão com a taxa reprimida, o dólar está subindo e deve continuar com essa tendência ao longo do ano.
O Bank of America projeta uma inflação em 6% este ano pelas várias fontes de pressão. Além do dólar alto, as outras pressões são: o mercado de trabalho, que tem mantido os salários mesmo com baixo crescimento da economia, os preços administrados que terão que se recuperar um pouco este ano, a falta de espaço fiscal para o governo conceder reduções de impostos que poderiam baixar preços.
A Selic é instrumento com o qual o Banco Central faz política monetária. É remédio amargo, mas pode ter como resultado uma desaceleração da inflação. O que é difícil de aguentar é o spread. A taxa de juros média para pessoas físicas, com recursos livres, subiu de 34,2% em abril de 2013 para 38,5%. Linhas para aquisição de veículos estão em 21% ao ano, uma taxa que parece pequena perto da cobrada na aquisição de outros bens, que foram de 68,3% para 72,6%. O cheque especial é sempre uma taxa punitiva em qualquer país, mas no Brasil é de matar o devedor: saiu de 136% para 146% nesse tempo em que a Selic está em alta.
A boa notícia é que mesmo com juros em alta — e juros do mercado em níveis escorchantes — a inadimplência das pessoas físicas caiu nesse período de 7,5% para 6,7% entre abril de 2013 até novembro de 2013.
Os preços dos alimentos subiram neste começo de ano, mas não tanto quanto no ano passado. Pelo índice da GO Associados, eles subiram 2,3% em dezembro, e, neste começo de janeiro, 0,7%. Segundo Fábio Silveira, carnes de frango, boi, suína, milho, café e laranja subiram. O tomate caiu 5% em dezembro e na primeira semana do ano despencou 31%.
Se o país atravessar esse período mais difícil da inflação com a alta de alimentos sazonal mais comportada poderá ter um ano mais tranquilo. Até porque essa dose forte de juros tenderá a fazer efeito nos próximos meses. Um deles é na confiança do compromisso do Banco Central em reduzir a inflação.
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