FOLHA DE SP - 10/12
Ideias econômicas da presidente parecem não ter mudado, apesar dos reveses do crescimento
O ATUAL ESTADO das ideias econômicas da presidente Dilma Rousseff é de grande interesse na praça do mercado.
Os reveses da vida, a aridez do Planalto e a falta de chuvas na horta da economia em seus anos de governo teriam transformado o pensamento de Dilma sobre economia? Quais são as intenções da presidente em 2014? Caso reeleita? A presidente teria mudado de ideia, mas não vai tomar atitudes que produzam marolas reais antes da eleição?
Dilma Rousseff tem dificuldade de esconder o que pensa, digamos assim. Difícil, pois, de acreditar que faria um discurso para inglês ver, como o que fez ontem ao lado do americano Bill Clinton.
"Até fins de 2012, experimentamos uma expansão de nossa economia depois de um longo período de estagnação. Diferentemente do passado, essa expansão não se fez à custa da desigualdade social, do desequilíbrio macroeconômico ou da vulnerabilidade externa", discursou.
É mais ou menos verdade. Sem mais desigualdade, decerto. Sem vulnerabilidade externa, dá para aceitar (o país tornou-se e ainda é credor, livrou-se de séculos de dívida externa, eterna), embora a coisa já não seja tão simples. Quanto a desequilíbrio econômico, aí já não dá.
De meados dos anos 2000 até agora, o deficit externo do Brasil cresceu o equivalente a cinco pontos percentuais do PIB. Isto é, a diferença entre o que vendemos e compramos lá fora ficou no vermelho. A balança pendeu para um lado. Houve desequilíbrio.
O déficit não é mortal, de nos quebrar as pernas como até 2002, mas está ficando chatinho e não foi bem muito aproveitado. Gastamos mais (tomando emprestado lá fora) para consumir, não para investir muito mais. De resto, gastamos mais lá fora porque a vida está cara demais aqui, para consumidores e empresas. Isto é, nossa inflação está relativamente alta demais (porque somos pouco produtivos e investimos pouco).
A presidente ainda acha que isso não é um problema (custos em alta). "No Brasil, como também em muitos outros países da América do Sul, depois da crise da dívida externa, nós erigimos a solidez das finanças públicas e o controle da inflação como fundamentos da nossa macroeconomia", disse a presidente.
Bem, a inflação na Argentina e na Venezuela está horrível. A do Brasil está chatinha. A de Chile, Peru, México e Colômbia está quieta, tanto que eles podem manter juros bem baixinhos por lá (mas o governo não gosta da política econômica desses países). Nossos juros estão em alta.
"A inflação atingiu em 2012, e também vai fechar este ano de 2013, num dos seus patamares de estabilidade em torno dos 5,8%, 5,9%. E isso significa que ela se manteve dentro da meta traçada nos últimos dez anos", disse ademais Dilma.
Hum. "Patamares de estabilidade"? A inflação está fora da meta faz meia década, por aí, mas dentro de uma banda bem larga (parecemos o fumante que promete largar o vício em cinco anos). Estáveis nesse patamar, os custos ajudam a desmanchar a indústria brasileira, demandam juros mais altos, que causam o aumento da despesa com a dívida, o que limita investimentos em "obras" e gastos em políticas sociais, entre outros muitos problemas.
Mas a presidente acredita que está tudo equilibrado. Dominado.
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