O Estado de S.Paulo - 01/12
O que caracteriza a política econômica em todos os governos, sem distinção de partido no poder, não é o tripé como normalmente é difundido, mas o medo da inflação e o remédio para combatê-la, que é a taxa básica de juros, a Selic.
Foi assim com FHC, Lula e está sendo com Dilma. A única diferença que se esboçou foi a tentativa dessa presidente de baixar a Selic real (excluída a inflação) para 2% ao ano, que perdurou por apenas alguns meses. Com a volta da Selic aos dois dígitos a partir de quarta- feira, a taxa real passa a ficar no nível de 4% ao ano. É mais uma frustração na política econômica deste governo, que afirmou que essa taxa deveria ser de 2%, ainda acima do nível internacional, que após a crise de 2008 ficou praticamente em zero.
O consolo é que já foi pior. Muito pior. Os sucessivos presidentes do Banco Central (BC) desde o início do Comitê de Política Monetária (Copom) praticaram taxas básicas de juros elevadas que contribuíram para catapultar a dívida do governo federal.
O primeiro gráfico ao lado apresenta a Selic média praticada em cada gestão desses presidentes do BC.
Esses valores superaram largamente a inflação média do período de gestão de cada presidente do BC, constituindo ganhos extraordinários aos aplicadores do País e do capital especulativo internacional.
A contrapartida desses ganhos são os rombos nas contas públicas e a forte elevação da dívida líquida interna do governo federal e BC, que passou de R$ 32,2 bilhões (6,16% do PIB) no início do governo FHC para R$ 1,8 trilhão (38,49% do PIB) ao final de setembro deste ano. Nesse período o governo pagou R$ 1,761 trilhão de amortização dessa dívida, que mesmo assim não parou de crescer. O estrago causado por essa política suicida não tem paralelo na história econômica do País.
A Selic ficou no seu nível histórico mínimo de 7,25% desde outubro do ano passado até abril deste ano, por seis meses. A partir daí, o Copom fez seis reuniões consecutivas de elevação da taxa até 10%, e promete continuar subindo - segundo se depreende do comunicado do comitê.
Inflação. Vale entender o que se passou com a inflação desde maio do ano passado até agora para avaliar se foi necessário ou não elevar a Selic.
O segundo gráfico ao lado apresenta a evolução ocorrida com a inflação nos últimos 12 meses, considerando seus três componentes: serviços, alimentos e bebidas e preços monitorados.
Os alimentos foram o vilão da inflação com a subida de preços que ocorreu desde maio do ano passado, puxando o IPCA para cima. Quando esses preços passaram a cair a partir de abril deste ano, puxaram o IPCA para baixo.
Os serviços apresentaram razoável estabilidade em torno de 8,3%, pouco influenciando na inflação. Os preços monitorados registraram forte redução no período, apresentando inflação de 1,0% nos últimos 12 meses. A Petrobrás tem servido aos propósitos do governo federal para segurar a inflação ao ser obrigada a subsidiar a gasolina e diesel, com sérios prejuízos à estatal.
Fica claro que o que influiu na inflação nesse período foram os alimentos e os preços monitorados. Como a Selic não influi no comportamento dos alimentos, que respondem a choques climáticos ou entressafras, e não influi também nos serviços e nos preços monitorados, que são definidos pelo setor público, o governo usou indevidamente a Selic para controlar a inflação.
O mercado financeiro, no entanto, e o governo federal vão atribuir à Selic o recuo ocorrido na inflação a partir de abril deste ano.
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