O Estado de S.Paulo - 01/12
A mais recente manifestação formal do PT contra o desfecho judicial do mensalão, feita pelo seu presidente Rui Falcão, revela a determinação do partido de levar às últimas consequências a política de redução de danos eleitorais com o episódio.
Depois do Supremo Tribunal Federal, chegou a vez dos médicos, os manipuladores da hora, que ousaram divulgar um laudo técnico minimizando os diagnósticos tão convenientes quanto leigos sobre a saúde do deputado José Genoíno.
Se limitada a uma sincera preocupação com seu ex-dirigente, o PT investiria objetivamente em questionar a capacidade do sistema penitenciário de garantir ao ainda deputado o tratamento adequado à sua enfermidade e não em contestar um diagnóstico que afasta o risco de vida, também respaldado pela Câmara dos Deputados, ao negar o pedido de aposentadoria por invalidez de Genoíno.
Mas a questão continua sendo a de sustentar a tese da prisão política como resultado de uma conspiração das forças conservadoras contra o projeto popular do partido - e, para isso, preservar o mandato dos parlamentares da legenda - e só destes -, é de fundamental importância. Às favas os escrúpulos, que atropelam a escandalosa exclusão dos parlamentares dos demais partidos condenados no mesmo pacote.
A Câmara se deixa arrastar para um escândalo que pode ficar ainda maior, quando o tempo esvaziar o impacto das prisões, que é a figura do deputado-presidiário.
O adiamento da abertura do processo da cassação de Genoíno pela Câmara vai aproximá-lo mais ainda do auge da campanha, aumentando o desgaste para o PT e para a instituição, embora isso não pareça ter importância para um e outro. Se, por omissão, os demais partidos fizerem a vontade do PT, se sujeitarão aos mesmos prováveis danos eleitorais.
O foco no presidente do STF, Joaquim, Barbosa, aumenta-lhe a visibilidade de juiz que enfrentou a impunidade histórica, porque o desconforto com a blindagem dos poderosos tem muito mais apelo popular que o jogo do PT para seu público particular.
Não fosse o espelho em que a maioria dos parlamentares se vê na imagem do condenado de hoje, a racionalidade já teria determinado como saída para a preservação da independência do Legislativo, que ele próprio aprovasse regra tornado automática a perda do mandato do condenado em última instância.
Como prevê projeto do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), preterido em favor de outros tantos que acabaram por abrir o voto mesmo para vetos presidenciais, reduzindo ainda mais a autonomia dos parlamentares em relação ao Poder Executivo.
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