sábado, novembro 09, 2013

O dilema do Fed - PANORAMA ECONÔMICO

O GLOBO - 09/11

ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO (INTERINOS)

o PIB dos EUA no terceiro tri veio mais forte que o esperado e o mercado de trabalho abriu mais vagas que o previsto. O dólar subiu no mundo todo, com a expectativa de que o Fed comece a retirar os estímulos já em dezembro. Mas é bom lembrar que o mercado também criou consenso em relação a setembro e os estímulos foram mentidos. O dilema do BC americano é grande, ainda há muitos indicadores fracos.

O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários FGV/Ibre, explica que o comitê do BC americano está dividido. Parte dos seus membros é favorável à política de estímulos, entre eles o atual presidente, Ben Bernanke, e a próxima, Janet Yellen, enquanto vários outros têm medo de que o excesso de liquidez possa causar problemas no futuro. 

Há números que justifiquem qualquer um dos dois lados. Os dados do PIB do terceiro trimestre e os indicadores do mercado de trabalho foram mais fortes que o previsto. Isso fez o mercado virar novamente e apostar na retirada já no mês que vem. Mas Senna cita vários outros indicadores da economia americana que mostram que a recuperação está aquém do esperado. Retirar as injeções mensais de US$ 85 bi na economia pode tornar o processo mais lento. 

— O número total de vagas do mercado de trabalho americano ainda não chegou ao nível pré-crise, mesmo com os números melhores dos últimos meses. Falta criar 1,5 milhão de empregos (vejam gráfico). Além disso, a inflação está muito baixa, o consumo das famílias cresceu pouco e há muita capacidade ociosa na indústria — disse. 

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco lembra que a alta do PIB do terceiro tri teve um forte empurrão dos estoques, que contribuiu para uma alta de 0,8 ponto no resultado de 2,8%. Isso sugere enfraquecimento da atividade econômica no quarto período. O banco continua apostando no mês de março para o início da retirada dos estímulos.

Senna lembra que o fim dos incentivos aumenta os juros dos títulos americanos e encarece o financiamento do mercado imobiliário, que está em recuperação. A única certeza que se pode ter é que a volatilidade nas moedas e nas bolsas vai continuar. O Brasil sofre mais porque está sob desconfiança dos investidores, depois dos maus
resultados da política fiscal..

Sem para-choques 
O diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, acredita que a inflação no Brasil só está elevada porque o país passou por vários choques nos últimos anos. Dois de commodities e um cambial. Sem eles, o IPCA estaria em 4,7%. O problema é justamente esse. A inflação se acostumou com patamares elevados e ficou sem espaço para a absorção de choques.

A recente alta do dólar pode representar um novo empurrão nos preços, e não é à toa que o BC não deu prazo para o fim das intervenções no mercado de câmbio. 

MUDAR O PASSADO. Desistir do cálculo retroativo da dívida dos estados ajudaria a reverter a desconfiança com a política fiscal. 

PERDA FORTE. Em apenas sete dias úteis, o real se desvalorizou 5,6% em relação ao dólar, saindo de R$ 2,18 para 2,31%.

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