O GLOBO - 09/11
Há uns 20 anos, esteve em cartaz um filme de terror de sucesso: “A bolha assassina”. A referida bolha fazia um estrago medonho. A expressão ganhou vida própria. Quando estourou a bolha financeira nos EUA em 2007, alguns falaram em “bolha financeira assassina”.
Com igual razão poderíamos falar em “câmbio assassino”. Em muitos países, o desalinhamento e a latilidade da taxa de câmbio causam imensos transtornos. O Brasil é um exemplo notável. Estamos há muitos anos convivendo com uma moeda supervalorizada. Nos anos recentes, o movimento de apreciação foi impulsionado pelo boom das commodities e a superabundância de capitais internacionais.
As estimativas de câmbio efetivo real (em relação a uma cesta de moedas) mostram com clareza a força da moeda brasileira. Tomando-se, por exemplo, dezembro de 2003 como mês de referência, a valorização do real é superior a 30% (estimativa da Funcex, usando IPCs como deflatores). No período 2009-2012, o auge da apreciação cambial, a valorização em relação a fins de 2003 era de 40% ou mais.
Uma enormidade. Nenhuma economia escapa impune a uma valorização persistente dessa ordem de magnitude. O governo brasileiro até que tentou conter a valorização da moeda. Adotou controles sobre a entrada de capitais. E entrou no mercado comprando parte da oferta abundante de moeda estrangeira, acumulando reservas internacionais.
Essas medidas ajudaram a moderar a apreciação cambial e, além disso, fortaleceram muito a nossa segurança externa. Mas não foram suficientes para conter o movimento. Reservas mais altas têm um efeito paradoxal: fortalecem a posição do país, tornando-o mais seguro como destino. Só que isso reforça a entrada de capitais, revigorando a pressão pela valorização.
A variação do câmbio sempre demora algum tempo para produzir todos os seus efeitos. Só agora estamos vendo o tamanho da conta que acumulamos. A moeda forte abalou de maneira duradoura a competitividade internacional da economia, em particular do setor industrial. As exportações tornaram-se mais caras. Ficou mais difícil competir com importações dentro do mercado brasileiro.
A perda de competitividade internacional solapou a capacidade de crescimento da economia brasileira. Essa é uma das razões, nem sempre lembrada, do crescimento medíocre dos últimos anos. Ao mesmo tempo, as contas externas vêm piorando continuamente. Este ano, estamos com um déficit na balança comercial. O déficit em conta corrente acumulado no ano já equivale a 3,6% do PIB.
Há atenuantes, notadamente os níveis elevados de reservas e de investimentos diretos. Não estamos à beira de nenhuma crise de pagamentos. Só não me venha algum economista dizer que o déficit em conta corrente é a contribuição da “poupança externa” ao desenvolvimento brasileiro. Aí já é demais.
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