CORREIO BRAZILIENSE - 12/10
O primeiro grupamento de caça brasileiro foi treinado nos Estados Unidos, na década de 40 do século passado, depois da criação do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira. Os aviadores, que se formaram no estado de Nova York, eram os pioneiros no Brasil. Estavam aptos para lutar na Itália, ao lado dos aliados, contra o inimigo nazista. No último dia, após os elogios de parte a parte, os brasileiros assistiram ao desfile da elite da Força Aérea dos Estados Unidos, que cantou seu hino. Os brasileiros também desfilaram, mas, na falta de hino - ninguém tinha se preocupado com o assunto -, cantaram A jardineira, tradicional marchinha de carnaval. Foram muito cumprimentados. Improviso e surpresa constituem marcas nacionais.
Surpresa também é bem-vinda na política brasileira, usualmente muito repetitiva. Marina Silva, que pregava a pureza partidária, percebeu que seria obrigada a fazer concessões. Ideológicas e programáticas. Sem elas não chegaria a lugar algum. Afundaria no rio de lágrimas e saudades com sua Rede Sustentabilidade. Não criaria nada e seria obrigada a postergar seu projeto político para a próxima eleição. Sob esses pontos de vista, ela fez um golaço ao fechar acordo com Eduardo Campos, do PSB, governador de Pernambuco, que tem boa imagem no público eleitor e entre empresários. Ela não cantou A jardineira, mas conseguiu incrível exposição pública. E recebeu elogios de todos os lados.
Será difícil e trabalhoso encaixar um partido no outro. Mas o jogo foi jogado. Não há volta, exceto se ocorrer um cataclismo político-partidário. Será necessário unir as siglas, combinar projetos, conceber novos atos e planejar o próximo passo. Até agora, todos estão perplexos e emocionalmente envolvidos com a rapidez da manobra e seu incrível alcance. Golpe de mestre, que desequilibrou a política nacional. O PT da presidente Dilma o sentiu. Lula chegou a falar em soco no fígado. Surgiu o antipetismo de forma orgânica. A união da Rede com o PSB se dá em torno de pessoas que já estiveram no e com o PT.
Há alguns detalhes a serem analisados desde agora. O tempo vai colocar as peças nos devidos lugares. As pesquisas deverão revelar o efeito prático, no eleitorado, de tamanha movimentação. Mas há uma característica comum nas três vertentes. No campo do PT, o ex-presidente Lula tem aprovação bem maior que a de Dilma Rousseff. Não é por acaso que existem correntes dentro do partido que defendem a tese do "volta, Lula". Lá na frente, perto da data final para registro de candidaturas, se Dilma não decolar, poderá perder o bonde da história para seu concorrente interno.
O fenômeno é semelhante ao que ocorre dentro da união PSB-Rede. Marina Silva consegue o segundo maior contingente de eleitores, segundo as pesquisas de opinião. Ela soma, agora, algo em torno de 20% do eleitorado. Eduardo Campos, presidente do PSB e provável candidato a presidente da República, estacionou na faixa dos 8%. Ou seja, a representatividade de Marina é mais de duas vezes maior que a de Eduardo. Perto do momento decisivo do registro da chapa, será difícil manter o que foi negociado agora. A pressão interna será insuportável. Na seara do PSDB, acontece a mesma situação. Serra tem maior visibilidade que Aécio, segundo as pesquisas.
A primeira conclusão a se tirar da fotografia eleitoral brasileira de hoje é que ela é enganosa. Os mais fortes e qualificados perante a opinião pública estão colocados em segundo lugar, por suas próprias agremiações partidárias. Essa situação torna tudo muito mais escorregadio e fluido. Além disso, a economia brasileira não passa por bom momento. As pessoas estão irritadas, as ruas cheias de manifestações e a Copa do Mundo, com suas inevitáveis turbulências, começa a ficar perigosamente próxima. No ano que vem, o carnaval cai em março; em junho, iniciam-se os jogos da Copa; e em agosto começa a campanha eleitoral. No meio desse contexto, tiros, confusões e quebra-quebra em todo o país.
Quem tiver o melhor discurso poderá aproveitar o momento raro da indignação nacional. O PSDB também pode fazer sua jogada surpreendente. Uma aliança verdadeira entre Serra e Aécio. Se os dois jogarem juntos - e não separados, como ocorreu na última eleição - e unirem os votos de São Paulo e Minas, a eleição presidencial, com qualquer candidato, terá desfecho surpreendente. Ou seja, o momento é incluir, juntar e não excluir. É hora de fazer política.
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