O GLOBO - 11/09
A volta da influência do ex-ministro Carlos Lupi na Pasta, com a nomeação de Manoel Dias, recolocou área no circuito da corrupção e na mira da PF
Repetem-se as cenas de agentes da Polícia Federal em operação de busca e apreensão em órgão público. O repeteco não é apenas na coreografia, mas no alvo da Operação Esopo: o Ministério do Trabalho, frequentador de relatos de casos de corrupção, em especial na gestão de Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.
Creditam-se ao grego Esopo histórias infantis de cunho moral — uma delas, a da cigarra trabalhadeira e da formiga esbanjadora, sem preocupação com a proximidade do inverno. Nos últimos tempos, no ministério do mesmo nome, trabalho mesmo, viu-se pouco. Tudo esteve mais para o descuido da formiga com o dinheiro público. História da carochinha quem contou foi o governo Dilma, quando afastou Lupi em nome de uma pretensa moralização. O noticiário da posse de Manoel Dias, em março, no lugar que fora do ministro, a quem é muito ligado, prenunciava o que aconteceu mais uma vez.
Lupi circulou alegre na solenidade da posse do correligionário Dias. Tudo, afinal, voltava a estar sob controle. Lupi passara o ministério a seu secretário-executivo, Paulo Roberto dos Santos Pinto, para um mandato interino de quatro meses. Ele sairia com a chegada de Brizola Netto, e retornaria pelas mãos de Manoel Dias.
Assim como outros da equipe de Lupi. Ontem, Paulo Roberto, destituído, foi levado à força para depor na PF, por haver suspeita de sua participação num esquema de fraude para transferir dinheiro público a uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), o Instituto Mundial do Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC), de Belo Horizonte, prestador de supostos serviços de qualificação profissional.
Paulo Roberto Pinto foi quem mandou retirar o IMDC do cadastro da Controladoria Geral da União (CGU) de entidades sem fins lucrativos impedidas de receber dinheiro do governo. Teria corrido propina nesta limpeza de ficha. Até ontem à tarde, além de Paulo Roberto, estavam exonerados Anderson Brito Pereira, assessor direto do ministro; Antônio Fernando Decnop, subsecretário de Orçamento, e Geraldo Reisenbeck, coordenador-geral de Convênio. Caiu, mais uma vez, a cúpula da Pasta, constituída sob inspiração de Carlos Lupi. O esquema, estimam a CGU e a PF, pode ter tragado dos cofres públicos R$ 400 milhões. Ontem, havia 22 pessoas presas. Existe, ainda, uma conexão da IMDC com a Federação das Indústrias de Minas (Fiemg) e o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene), autarquia do governo do estado. Não falta sequer conexão com uma mensaleira condenada, Simone Vasconcelos, diretora da SMP&B, agência de Marcos Valério. Simone forneceria notas fiscais para lavar dinheiro do IMDC.
A origem de tudo é a política fisiológica de montagem de equipes de governo, seguida desde o primeiro governo Lula. Dilma, no início do mandato, pareceu corrigir rumos. Mas só parece, como se nota.
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