A disposição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em votar hoje a emenda constitucional 18, aquela que torna automática a perda do mandato dos deputados condenados no Supremo Tribunal Federal (STF), tem como principal objetivo fazer refluir a pressão em torno do fim do voto secreto em todo e qualquer tipo de votação. Essa PEC foi apelidada de PEC dos Mensaleiros porque, quando aprovada, vai tirar automaticamente os mandatos de João Paulo Cunha e de José Genoino, ambos do PT; de Valdemar Costa Neto, do PR, e de Pedro Henry, do PP. E, assim, o Congresso tenta ganhar tempo para rever a proposta que estabelece o voto aberto para tudo.
Renan sabe que hoje existe um movimento por mais ética e transparência na política, mas também tem plena consciência das dificuldades de acabar com o voto secreto em alguns casos. Vejamos, por exemplo, a escolha de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), indicado pelo Planalto, que não preencha todos os requisitos de conhecimento e experiência jurídica. Muitos integrantes da base governista ficariam constrangidos em votar abertamente contra um desejo do governo.
Para muitos, o voto secreto, nesse caso, seria um dos “mecanismos da democracia”. E é isso que os senadores desejam debater antes de banir definitivamente o sigilo do plenário. O difícil é fazer com que o eleitor entenda o voto secreto como “mecanismo democrático”. Aí está um debate que valerá a pena acompanhar.
Enquanto isso, no Planalto…
Meio distante dessa discussão sobre o voto secreto para efeitos de perda de mandato, a presidente Dilma Rousseff comemora os resultados da pesquisa da Conferência Nacional dos Transportes (CNT)/MDA, que lhe rendeu uma recuperação. Isso porque os 6,8 pontos percentuais acima dos 31,3% registrados em julho dão à presidente uma certa calmaria na seara política. Afinal, enquanto ela estiver bem, os aliados não vão querer largar a campanha pela reeleição. O problema, entretanto, é o PT aproveitar essa onda para querer engolir os aliados. Aí, as rusgas na base e as armadilhas em gestação no Congresso podem terminar por comprometer a aliança.
Os peemedebistas, por exemplo, passam os dias num pêndulo, ora aliados, ora rebeldes, porque identificam no PT dificuldades de promover uma parceria administrativa e eleitoral. No Distrito Federal, por exemplo, não será surpresa se o atual vice-governador, Tadeu Filippelli, desistir de compor uma chapa com o governador, Agnelo Queiroz. Isso porque, na visão do PMDB nacional, não existe, por parte dos petistas, a disposição de governar em parceria.
E no PSDB…
Os tucanos começaram ontem a temporada de inserções na tevê. São três filmes, com destaque para o presidente do partido, Aécio Neves, pré-candidato a presidente da República, e três temas. O primeiro trouxe o slogan “quem muda o Brasil todos os dias é você”, uma tentativa de tirar do PT o discurso, sempre repisado nas campanhas petistas, de que o partido está mudando o país. O segundo abordou as deficiências do transporte público nas grandes cidades e o tempo que o cidadão leva para se deslocar ao trabalho, fazendo um contraponto aos R$ 38 bilhões que o governo federal pretende destinar ao trem-bala entre Rio e São Paulo.
O último tema em discussão será a inflação. Embora alguns números oficiais tenham apresentado uma melhora no mês passado, ontem o IGPM, que serve para o reajuste dos aluguéis, subiu de 0,13% para 1,02%, como o leitor poderá se informar nas páginas de economia do Correio Braziliense. Ao mencionar a inflação, o senador se dirige em especial às donas de casa, que vão ao supermercado e sentem no bolso a elevação dos preços. E, assim, o PSDB começa a desenhar as próprias bandeiras, para se contrapor ao Programa Mais Médicos e à destinação dos royalties do petróleo para educação e saúde. No geral, o PSDB trabalha a ideia de dizer ao eleitor que quem fez o Plano Real tem a experiência para segurar a inflação.
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