O GLOBO - 11/09
Neste momento desconfortável, em que a realidade supera os piores temores sobre a espionagem americana, é preciso identificar onde estão as informações mais sensíveis a serem protegidas. Na licitação de Libra, os dados já pesquisados são franqueados a todos os participantes. O que deve ser mais protegido é a capacidade tecnológica da Petrobras.
Nas comunicações da presidente interceptadas, o que há é um desrespeito inadmissível, como bem disse o governo, da soberania nacional, seja qual for a natureza da informação que eles buscam. Na maior empresa brasileira, vasculhada de 72 em 72 horas, como contou ontem o jornalista José Casado, o que há de mais valioso é a informação da ciência e tecnologia de prospecção, exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas.
Há grandes empresas estrangeiras investindo no desenvolvimento dessa tecnologia, mas não é ufanismo algum dizer que a Petrobras é uma das maiores dos sete mares. E isso por um motivo ditado pela localização do nosso petróleo. Ele é pouco em terra e mais abundante no mar. Por isso, a empresa brasileira sempre foi mais fimdo na busca dessa exploração.
O mundo dos negócios não é feito de compartimentos estanques, e a empresa brasileira é sócia de empresas americanas aqui e em outras áreas de produção no mundo. Mas não se pode ser ingênuo diante de tanto esforço de busca de informação pela NSA: eles estão correndo atrás, de forma ilegal e desleal, dos seus interesses econômicos. Cabe ao Brasil se proteger, mas sem a xenofobia de querer fechar o país à cooperação e investimento das empresas americanas.
Como explicou o ministro Aloizio Mercadante, as informações sobre o Campo de Libra já obtidas nas pros-pecções da Petrobras e da ANP estão disponíveis a todos os participantes. É sempre assim nas privatizações ou concessões: forma-se uma sala de informação, com todos os dados e pesquisas geológicas, para que os consórcios ou empresas isoladamente possam preparar seus lances. Além disso, a principal informação sobre este campo já foi revelada pela ANP, que é a estimativa de se ter entre 8 bilhões á 12 bilhões de barris de petróleo recuperáveis. Essa é a principal informação, porque indica que Libra é um campo com menos risco, muita exploração já foi feita. No caso de Libra, a Petrobras, por ser pré-sal, será a operadora e terá 30% do negócio, qualquer que seja a vencedora. Portanto, impedir as empresas americanas seria um tiro no pé, reduzi; ria a competição no leilão, o que diminui o preço que as empresas estão dispostas a pagar.
O especialista Adriano Pires, do CBIE, explica que sim, há dados a proteger da espionagem:
— Toda empresa grande tem seus segredos estratégicos, tem o conhecimento que só ela tem, e isso é um dos seus ativos. O mercado de petróleo é um dos setores de maior risco e incerteza. A Petrobras tem um conhecimento do Brasil que nenhuma outra empresa tem. Ela vai fazer 60 anos este ano e durante 45 anos foi monopolista do setor de petróleo. Ela também tem um corpo técnico de muita qualidade. No Brasil, nenhuma outra petrolífera tem tanta informação sobre quais campos podem ter mais petróleo.
O pré-sal é um desafio tecnológico enorme. Em nenhum lugar do mundo se está produzindo em larga escala petróleo a 5 mil, 7 mil metros de profundidade. A Petrobras já produz 300 mil barris por dia. Então ela já produz conhecimento para ter uma exploração com menor risco e também com maior produtividade.
A espionagem pode estar atrás de informações que possam ser usados em outros lugares do mundo, na costa americana, na costa do México, na costa da África. A empresa precisa desconfiar sempre dos seus sistemas de proteção de informação, porque, como se pode ver, com a desculpa de combate ao terrorismo, os americanos perderam qualquer limite. Se é que o tiveram algum dia.
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