quinta-feira, setembro 05, 2013

Royalties e a educação - ELDO PENA COUTO

ESTADO DE MINAS - 05/09
Escola pública carece de uma gestão mais eficiente e de Professores bem formados


A Câmara dos Deputados aprovou, em 15/8, a destinação de 75% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação. O que, aparentemente, constitui uma rápida e positiva resposta a uma das mais insistentes exigências observadas nas recentes manifestações públicas ocorridas em todo o país, na verdade, é bastante discutível. Seria ótimo se os problemas da educação, no Brasil, pudessem ser resolvidos, simplesmente, com mais dinheiro. 10% do PIB e 75% dos royalties do petróleo do pré-sal nos transformariam, em médio prazo, em uma nação com um ensino de qualidade superior à de países do Primeiro Mundo, já que alguns deles exibem uma educação pública de qualidade invejável com a metade desse investimento. Na verdade, a educação pública brasileira necessita de muito mais que o simples investimento financeiro. Não é necessário ser especialista em educação para entender que as escolas públicas precisam, em primeiro lugar, de gestão eficiente. 

Em Minas, os diretores dos estabelecimentos de ensino municipais e estaduais são eleitos para um curto mandato pela comunidade educacional. Os candidatos são Professores e quase sempre munidos de boas intenções, mas sem experiência. O que parece ser uma lição de democracia acaba sendo um problema na prática. Não seria hora do setor público indagar por que falha seguidamente? Não é segredo que várias escolas do setor privado tem se inspirado no modelo de gestão que norteia as empresas de outros setores de serviços e de produção. Um dos comportamentos adotados por esses colégios, por exemplo, é avaliar periodicamente a atuação de todos os envolvidos no processo educacional e, principalmente, atuar efetivamente após essa avaliação. Desse modo, a gestão tem condições de se apoiar em indicadores claros para traçar os planos de ação que visam a atingir as metas propostas pela escola. Se as instituições públicas quiserem melhorar a qualidade, devem levar em consideração esse modelo, respeitando a especificidade de cada escola, ou ficarão patinando inutilmente no mesmo lugar, por mais dinheiro que lhes seja destinado. Também não se pode falar em melhorar o ensino sem levar em consideração a qualidade do corpo docente. É preciso dar atenção à formação dos profissionais do ensino de que o país dispõe. O que se vê, no entanto, nos cursos de licenciatura, é a supervalorização da discussão ideológica, em detrimento da preparação efetiva dos Professores. O resultado são profissionais de baixa qualidade que, muitas vezes, não dominam sequer os conteúdos básicos a serem ensinados.

Portanto, a educação pública de qualidade, tão enfaticamente exigida nas últimas manifestações, não virá simplesmente com mais dinheiro, mas com a busca da solução para vários problemas que o setor de ensino evidencia há bastante tempo. O governo mostrou ser capaz de vencer significativos desafios nessa área, como exemplifica o Enem, hoje um modelo de avaliação comparável ao existente nos países mais desenvolvidos. Da mesma forma, pode investir em um modelo de gestão eficiente, pode promover a formação, a capacitação e a valorização de Professores, pode melhorar o ambiente escolar, pode qualificar o aprendizado e pode oferecer à população a escola pela qual clama nas ruas. Mas isso só se efetivará se a sociedade brasileira mantiver a atitude de cobrança e indignação.

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