O Estado de S.Paulo - 05/09
Os chefes de Estado das 20 maiores potências econômicas do mundo (Grupo dos Vinte - G-20) reúnem-se hoje em São Petersburgo, na Rússia, para a 8.ª reunião de cúpula.
O G-20, criado em 1999 para ampliar com países emergentes o âmbito do G-7, é um desses grupos informais cujo objetivo é coordenar globalmente as ações de política econômica para enfrentar crises com mais eficiência.
Como das outras vezes, há um desencontro de prioridades entre os governos dos países industrializados (sobretudo Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia) e os dos emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e Argentina).
Os países ricos seguem prostrados pela crise, mas já se veem sinais claros de recuperação. Seu objetivo político mais relevante é a criação de empregos.
Os países emergentes estão mais preocupados com o impacto sobre suas economias a ser produzido pela reversão das políticas monetárias, especialmente dos Estados Unidos. Lá, o Federal Reserve (Fed, o banco central) vem emitindo dólares à proporção de US$ 85 bilhões por mês e, com eles, compra títulos. O resultado é uma impressionante injeção de moeda que inundou o mundo e os países emergentes.
Foi quando o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, denunciou, também no G-20, a guerra cambial, querendo assim defender a economia brasileira contra a avalanche de dólares no Brasil, movimento que provocou a valorização do real (baixa do dólar) e consequente perda de competitividade da indústria. A presidente Dilma preferiu chamar o fenômeno de "tsunami monetário".
Agora, os países emergentes temem o efeito contrário: o de que à medida que os grandes bancos centrais, sobretudo o Fed, pararem de emitir e reverterem essa política para o enxugamento de moeda (por meio da revenda dos títulos que mantêm em carteira), a torneira de capitais irá se fechando para os emergentes e produzirá desvalorização das moedas nacionais (alta do dólar) e forte inflação.
Pressões assim têm alguma coisa do comportamento daquele italiano que reclama sempre: "Piove, governo ladro; non piove, governo ladro". Qualquer que seja a política monetária dos países ricos, sobram problemas para os emergentes. Esse desconforto, com exceção da China que possui uma poupança de 51% do PIB, ocorre porque são economias instáveis. Com fundamentos, paredes e tetos insuficientes ou deteriorados, apanham tanto quando chove quanto quando não chove.
Os emergentes estão agora mais interessados em que o desmonte dessa política monetária se faça o mais suavemente possível e que o mundo mais rico os supra de investimentos destinados, a um só tempo, a puxar dólares para dentro e, assim, neutralizar sua rarefação e garantir a expansão da infraestrutura.
Querer só é poder quando há poder de barganha. E o maior poder de barganha dos emergentes é o de que já têm peso suficientemente alto para que os países ricos se interessem pelo crescimento econômico deles. Se não por outras razões, pelo menos como condição necessária para que comprem mais.
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