O GLOBO - 17/09
A desistência de Lawrence Summers da disputa pela presidência do Fed e os sinais: mais fracos da economia americana fizeram aumentar as apostas de que os estímulos monetários não vão começar a acabar amanhã. Isso mudou o quadro das moedas. O real, que havia caído 18% de 1º de maio a 22 de agosto, subiu 6,7% daquele dia até ontem.
A política monetária americana virou uma fonte de novidades a cada momento. Ontem foi o dia da reviravolta sobre o novo comando do Fed, com a desistência de Lawrence Summers. O ex- secretário do Tesouro do governo Clinton e ex-conselheiro de Barack Obama era o favorito do presidente americano e o mais controverso dos candidatos.
Ele brigou com as mulheres, ele assusta o mercado, ele coleciona inimigos, ele acha que os estímulosà economia devem ser retirados rapidamente, ele dividia a bancada democrata no Congresso.
Mesmo assim, sua desistência surpreendeu porque Summers tinha acabado de pedir para deixar o Citigroup, por ser um dos candidatos.
Ninguém sabe quem será o indicado, ou a indicada. A vice-presidente do Fed Janet Yellen tem grupos de apoio no Congresso, mas não faz parte do círculo próximo do presidente. Fala-se em Timothy Geithner, o que preenche esse requisito. Mas apenas esse. Geithner fez parte da construção da crise. Ele era do Fed de Nova York, responsável pelas seguradoras e, como todos se lembram, a AIG quebrou nas barbas do Fed de NY.
Não foi apenas o real que caiu e depois subiu.
Várias moedas fizeram esse sobe e desce, mas a nossa é mais volátil por causa das fragilidades da economia brasileira. O que atenuou o movimento foi a ação do Banco Central.
No acumulado de 1º de maio a 16 de setembro, depois da queda e da recuperação, o real acumula desvalorização de 12,3%; o dólar australiano, de 9,3%; rand sul- africano, 8,1%; e peso mexicano, 5,7%.
José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, disse que esse assunto de retirada dos estímulos já cansou. O Fed sofreu um desgaste muito grande com esse tema porque acabou introduzindo uma fonte de incerteza nos mercados com esse tira ou não tira. Mas, amanhã, é que o Fed dará algum sinal, após a sua reunião:
Nos dois últimos meses, a economia americana não deu sinais bons. Dados de emprego vieram abaixo do esperado e as vendas do comércio divulgadas na sexta-feira vieram fracas. Então a retirada dos estímulos, por esse ponto de vista, poderia ser mal compreendida. Acho que vai pesar mais é o desejo de virar a página e sair desse assunto. Dá-se início a uma retirada gradual, para virar a página, e depois se faz os ajustes necessários. O mercado avalia como já precificado uma diminuição entre US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões, do montante atual que é comprado todos os meses. Então um valor desse tipo seria recebido sem muitas turbulências,
Na opinião de Senna, a saída de Summers da disputa é bem-vinda, apesar de ele ser um economista brilhante:
Ele tem uma personalidade muito forte e ficou muito desgastado com a desregulamentação financeira. Então, seria um elemento adicional de incerteza porque é mais centralizador; busca menos consensos. Ele está mais para Greenspan do que para Bernanke. Vamos supor que o Fed anuncie o início do fim dos estímulos e, em janeiro, quando o Summers assumisse, ele resolvesse não seguir adiante?
Mas o que toda essa movimentação mostrou é o quanto estamos ligados à economia internacional. Para o bem ou para o mal. Ontem, os mercados reagiram bem, nesta véspera da reunião que pode anunciar, afinal, para onde vai a política monetária dos Estados Unidos.
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