CORREIO BRAZILIENSE - 15/09
Faz hoje, 15 de setembro, cinco anos que o mundo mergulhou na mais grave crise financeira desde a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Foi nessa data, uma segunda-feira, que o Lehman Brothers foi a pique, afetado pelo estouro de milhares de hipotecas imobiliárias de lastro duvidoso e aceitas como âncoras de financiamentos para quem quisesse comprar qualquer objeto de desejo.
O Lehman não era um banco qualquer. Era a quarta maior instituição financeira do Estados Unidos, com longa tradição em Nova York, coração do mercado financeiro internacional, e com representação nas principais praças do mundo. Tampouco estava sozinho nos exageros que o levaram à bancarrota. O Lehman não fazia, àquela altura, nada mais do que participar de uma corrida maluca que dominou o centro financeiro do mundo, em busca de ganhos de escala na concessão de financiamentos. Executivos eram premiados e ganhavam bônus milionários, na proporção dos financiamentos concedidos.
Essa farra, movida pelo excesso de desregulamentação, acabou contaminando sistemas bancários e até governos de vários países desenvolvidos do outro lado do Atlântico. Brilhavam nos rankings os bancos que mais emprestavam, inclusive para governos de países que já tinham endividamento além do razoável. Estava armado, então, enorme castelo de cartas que ruiria a qualquer momento, como alertavam especialistas, então considerados pessimistas.
O Lehman foi, portanto, apenas a carta retirada da precária estrutura do castelo. A crise ainda não passou, mas muitas lições já podem ser retiradas dos últimos cinco anos de medo e purgação. A primeira delas veio confirmar o acerto das autoridades monetárias brasileiras que, escaldadas por crises anteriores, tinham endurecido a regulação do sistema bancário do país. Acusadas de excessivamente duras e conservadoras, as regras vigentes no Brasil acabaram produzindo um sistema bancário mais saudável e sólido do que a média dos países desenvolvidos.
Por isso mesmo, logo que estourou a crise, o Banco Central dispunha de ferramentas poderosas para blindar o sistema da previsível escassez de crédito no mundo. Entre 2008 e 2010, foram liberados nada menos do que R$ 200 bilhões dos depósitos compulsórios - até então odiados cabrestos impostos ao bancos para conter os excessos de liquidez. Além disso, o Brasil, em vez de desonrar contratos, como fez a Argentina, tinha encerrado com sucesso a negociação da dívida externa, pôde quitá-la e acumular reservas cambiais, valendo-se da explosão dos preços de nossas commodities exportáveis.
O Brasil tinha aprendido a lição do perigo da falta de regulação dos mercados e, nos primeiros meses da crise, saiu-se bem. O problema é que nem todo o dever de casa no campo fiscal foi feito - exatamente a doença que ainda acomete países da Europa, como Portugal, Espanha, Grécia, Itália e até a França. Agora que os EUA começam a sair da crise e voltam a atrair o dinheiro do mundo, o Brasil corre o risco de ser preterido nos investimentos. Por sorte, graças à demora da recuperação europeia, ainda temos tempo de refazer nossa política fiscal - contendo o gasto público e estimulando o investimento privado.
O Lehman não era um banco qualquer. Era a quarta maior instituição financeira do Estados Unidos, com longa tradição em Nova York, coração do mercado financeiro internacional, e com representação nas principais praças do mundo. Tampouco estava sozinho nos exageros que o levaram à bancarrota. O Lehman não fazia, àquela altura, nada mais do que participar de uma corrida maluca que dominou o centro financeiro do mundo, em busca de ganhos de escala na concessão de financiamentos. Executivos eram premiados e ganhavam bônus milionários, na proporção dos financiamentos concedidos.
Essa farra, movida pelo excesso de desregulamentação, acabou contaminando sistemas bancários e até governos de vários países desenvolvidos do outro lado do Atlântico. Brilhavam nos rankings os bancos que mais emprestavam, inclusive para governos de países que já tinham endividamento além do razoável. Estava armado, então, enorme castelo de cartas que ruiria a qualquer momento, como alertavam especialistas, então considerados pessimistas.
O Lehman foi, portanto, apenas a carta retirada da precária estrutura do castelo. A crise ainda não passou, mas muitas lições já podem ser retiradas dos últimos cinco anos de medo e purgação. A primeira delas veio confirmar o acerto das autoridades monetárias brasileiras que, escaldadas por crises anteriores, tinham endurecido a regulação do sistema bancário do país. Acusadas de excessivamente duras e conservadoras, as regras vigentes no Brasil acabaram produzindo um sistema bancário mais saudável e sólido do que a média dos países desenvolvidos.
Por isso mesmo, logo que estourou a crise, o Banco Central dispunha de ferramentas poderosas para blindar o sistema da previsível escassez de crédito no mundo. Entre 2008 e 2010, foram liberados nada menos do que R$ 200 bilhões dos depósitos compulsórios - até então odiados cabrestos impostos ao bancos para conter os excessos de liquidez. Além disso, o Brasil, em vez de desonrar contratos, como fez a Argentina, tinha encerrado com sucesso a negociação da dívida externa, pôde quitá-la e acumular reservas cambiais, valendo-se da explosão dos preços de nossas commodities exportáveis.
O Brasil tinha aprendido a lição do perigo da falta de regulação dos mercados e, nos primeiros meses da crise, saiu-se bem. O problema é que nem todo o dever de casa no campo fiscal foi feito - exatamente a doença que ainda acomete países da Europa, como Portugal, Espanha, Grécia, Itália e até a França. Agora que os EUA começam a sair da crise e voltam a atrair o dinheiro do mundo, o Brasil corre o risco de ser preterido nos investimentos. Por sorte, graças à demora da recuperação europeia, ainda temos tempo de refazer nossa política fiscal - contendo o gasto público e estimulando o investimento privado.
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