O ESTADÃO - 15/09
A morte do baixista Champignon, de 35 anos, no início da última semana, trouxe o tema do suicídio novamente para o noticiário. Além do triste desfecho, alguns aspectos dessa história chamam a atenção. Em primeiro lugar, não parece mera coincidência o fato de três músicos que se conheciam - e eram praticamente de uma mesma geração - terem morrido de forma dramática em um intervalo tão curto de tempo. Outro ponto importante: essas mortes todas acontecem entre ídolos dos jovens, faixa da população em que está havendo um crescente número de casos de suicídio.
A primeira reação de muitos fãs ao saber, logo nas primeiras horas da madrugada da última segunda-feira, da morte de Champignon deve ter sido a incredulidade por mais um músico dessa turma morrer. Após a overdose de cocaína que matou Chorão (parceiro na banda Charlie Brown Jr. e grande amigo do baixista), em março, e o suicídio de Peu Sousa (ex-parceiro na banda Nove Mil Anjos), que foi encontrado enforcado em sua casa na Bahia, em maio, a morte do baixista podia parecer parte de uma sequência trágica de eventos.
De fato, alguns estudos apontam uma possibilidade maior de suicídio em pessoas que já conviveram com esse drama. Assim, filhos e parceiros de pessoas que cometeram suicídio estariam mais expostos ao risco. É como se "vivenciar" intensamente a perda de alguém próximo por essa causa tornasse o suicídio uma possibilidade mais concreta na vida das pessoas.
Na maioria das vezes, existe algum transtorno emocional ou psiquiátrico por trás do planejamento da própria morte. A depressão aparece como uma das principais causas de suicídio em todo o mundo. Talvez a experiência (perda de alguém de forma trágica) e os sintomas depressivos não estejam assim tão dissociados. Assim, quem conviveu com o suicídio pode carregar a depressão por anos a fio e, em algum momento da vida, por algum tipo de "descompensação", acaba tendo potencializado o risco de se matar. Pelas notícias publicadas na última semana, talvez cobranças e críticas que vinham sendo feitas pelos fãs ao músico por assumir o posto de vocalista em uma nova banda, ou, ainda, dívidas financeiras, teriam sido a gota d'água. Mas, nesse ponto, essas considerações são mera especulação.
Outro aspecto que chama a atenção é que o músico era jovem e fazia sucesso entre os mais novos. Artigos publicados na revista científica Lancet, em 2012, chamavam a atenção para o suicídio como um problema crescente de saúde pública entre os jovens. Dados da publicação apontavam o suicídio como segunda principal causa de mortes entre jovens em todo o mundo. Entre as garotas de 15 a 19 anos, foi considerado a principal causa de morte. Entre os garotos dessa faixa de idade, foi a terceira causa, atrás dos acidentes de trânsito e dos homicídios. Ainda de acordo com a Lancet, de 1980 a 2000, a taxa de suicídio aumentou cerca de dez vezes entre os jovens: de 0,4 para 4 em cada 100 mil pessoas. No Brasil, estima-se de 20 a 25 suicídios por dia, e se supõe que o número de tentativas seja 20 vezes superior ao de mortes.
Identificar fatores de risco talvez seja o primeiro ponto importante para a redução das tentativas de suicídio. Alterações agudas de comportamento, sintomas depressivos, quadros psiquiátricos graves, história recente de perdas trágicas, grandes problemas familiares, inconformismo com o fim de relacionamento amoroso, grande desmoralização por questões financeiras ou sociais e problemas crônicos de saúde são alguns desses fatores.
Alguns trabalhos recentes mostram que, em tempos em que tudo acontece nas redes sociais, declarações e publicações em páginas pessoais poderiam dar pistas para amigos e parentes das intenções de alguém que enfrenta sérias dificuldades. Estar atento a esses sinais poderia ajudar a evitar suicídios.
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