O Estado de S.Paulo - 09/08
O consumo vem crescendo bem mais devagar há dois anos (veja o gráfico) e, daqui para a frente, deverá enfrentar mais obstáculos.
Nos últimos meses, o avanço do consumo no Brasil vem sendo questionado enquanto estratégia de política econômica. Desde antes do final do período Lula, o conjunto de políticas entendia que o avanço econômico devia centralizar-se na rápida expansão do consumo das famílias. A ideia era fortalecer o mercado interno para que, com aumento de escala, a atividade produtiva ganhasse eficiência.
Para atingir esses objetivos, o governo tratou de expandir as despesas públicas, acionou o crédito (que cresceu 66% nos últimos três anos), lançou programas de construção habitacional (como o "Minha Casa, Minha Vida"), reduziu impostos de bens de consumo duráveis (como de veículos e de aparelhos domésticos) e há dois meses reforçou a demanda de móveis e, outra vez, de aparelhos domésticos (com o "Minha Casa Melhor").
Essa política que privilegiou o consumo provocou distorções. Estrangulou a infraestrutura, que já era precária e ficou mais ainda; atiçou a inflação, porque puxou para cima os preços dos serviços; e alargou o rombo das contas externas (Transações Correntes). A indústria não conseguiu aproveitar a oportunidade porque, prostrada por seus custos, não conseguiu competir com o produto importado.
Essas foram as principais razões pelas quais o governo acabou entendendo que não pode mais centrar sua política econômica na expansão do consumo. Tem de dar mais atenção ao investimento tanto público como privado.
Mas essas não são as únicas razões pelas quais não se pode contar mais com o ritmo forte de expansão do consumo das famílias.
Há dois dias, a presidente Dilma celebrou em Varginha, Minas Gerais, a retirada de 22 milhões de brasileiros da miséria em dois anos e meio. Independentemente da exatidão do número, não há outros 22 milhões a incluir no mercado. E, por mais que queira expandir a política de rendas, também não há outros 13 milhões de brasileiros a contemplar com Bolsa Família.
O crédito vem se expandindo entre 16% e 20% ao ano. Não há muitos candidatos mais a financiamentos bancários. Acumulam-se indícios de que as famílias já estão excessivamente endividadas. A grande expansão do crédito habitacional (de 210% nos últimos três anos) é por si só fator que reduz o poder aquisitivo do mutuário porque boa parte do seu orçamento se destina agora a honrar sua dívida. Além disso, os programas de incentivo à compra de veículos e de aparelhos domésticos funcionaram em grande parte como antecipação de vendas (ou de compras). Daqui para a frente, enfrentarão novos limites.
Ademais, a erosão do poder aquisitivo pela inflação e os menores reajustes salariais em termos reais não deverão recompor o poder aquisitivo do consumidor na mesma proporção em que aconteceu nos anos anteriores.
São novos fatores a advertir que não se deve esperar por forte crescimento econômico também nos próximos anos.
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