FOLHA DE SP - 09/08
SÃO PAULO - A USP decidiu participar do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o teste do MEC usado para avaliar instituições de ensino superior. É uma boa notícia, já que a USP era a última universidade brasileira que se recusava a submeter-se à prova.
A adesão é meio envergonhada. Os alunos da universidade paulista não serão obrigados a fazer o exame, ao contrário dos de outras instituições, e os resultados obtidos permanecerão secretos nos primeiros anos. Essa foi, imagino, a fórmula encontrada para vencer as resistências internas, que não eram poucas nem despropositadas.
De um modo geral, o Inep, o órgão vinculado ao MEC responsável por avaliações e pesquisas educacionais, faz um trabalho de alto nível e conseguiu, desde que foi reformulado em meados dos anos 90, transformar o Brasil de um deserto de estatísticas pedagógicas num país que tem números para tudo. O fato de não sermos capazes de usar essas informações para fazer o sistema funcionar direito é um outro problema.
Isso dito, é importante frisar as falhas do Enade. A mais grave é que o aluno tem pouco ou nenhum compromisso com a avaliação. Sua obrigação é comparecer ao local da prova, mas não fazê-la com seriedade. Não raro os formandos combinam entre si de boicotar o exame, por razões ideológicas ou para pressionar a direção de suas escolas. Essa dificuldade poderia ser minorada se o desempenho de cada aluno nesse teste fosse gravado em seu diploma.
Outro problema grave é o caráter trienal da avaliação. Algumas faculdades manipulam o ritmo de aprovação de seus alunos de modo a assegurar que os piores nunca se formem nos anos em que a instituição é avaliada e, assim, não precisem fazer a prova. O remédio aqui seria tornar o exame anual, em que pese triplicar os custos e criar dificuldades logísticas. Como dizia o economista Milton Friedman, não há almoço grátis.
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