FOLHA DE SP - 09/08
Alta de preços em julho é a menor em três anos e Dilma comemora resultado, mas governo está longe de fazer a economia deslanchar
Compreende-se que a presidente Dilma Rousseff tenha comemorado o recuo da inflação em julho. Foi, afinal, o primeiro resultado expressivo desde março, quando a taxa acumulada em 12 meses superou o limite de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional.
Para Dilma, houve um "estardalhaço" com a alta dos preços nos meses anteriores, mas a inflação estaria "bastante sob controle", a julgar pelos dados mais recentes.
Há certo otimismo nas declarações presidenciais. Sim, a alta do IPCA em julho, de 0,03%, foi a menor variação mensal em três anos. Além disso, é verdade que, considerados os últimos 12 meses, o índice caiu para 6,27% --abaixo, portanto, do teto da meta, de 6,5%.
Não se pode ignorar, porém, que para a desaceleração contribuíram fatores episódicos. O congelamento das tarifas de ônibus e metrô teve grande impacto no mês e respondeu por ao menos 0,10% da redução. A queda do preço dos alimentos também ajudou.
Permanece, no entanto, o principal fator estrutural de pressão inflacionária: os serviços continuam a subir no ritmo de 8,5% ao ano, em decorrência da indexação de contratos e do mercado de trabalho ainda aquecido.
Outros aspectos também merecem consideração. Um deles é a desvalorização cambial. Com a queda do real diante do dólar, produtos importados --ou compostos de peças fabricadas no exterior-- ficarão mais caros. Se a expectativa de recuperação da economia americana ganhar corpo, esse quadro deve se agravar.
Tudo somado, pouco mudou, a despeito de julho, no duplo descompasso observado na economia brasileira. Enquanto a alta dos preços convive com um crescimento pífio do PIB, a inflação não se coaduna com o padrão internacional.
Por ironia, se há um fator a mitigar o risco inflacionário, é justamente a fraqueza da atividade econômica doméstica. A tênue expectativa de recuperação que vigorou no primeiro semestre foi desfeita pela alta de juros internos e externos, pelo câmbio desvalorizado, pela queda abrupta da confiança das famílias e das empresas e pela lenta elevação do desemprego.
Dado o ambiente de incerteza, a estratégia mais prudente do Banco Central, no curto prazo, parece ser manter a alta dos juros, a fim de consolidar a trajetória de queda dos preços, que ora se iniciou. Mas isso pouco adiantará se o governo não der um basta na prática de manipular as contas públicas.
Se conseguir recuperar a confiança do setor privado na economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff --e todo o país-- terá, de fato, bons motivos para comemorar. Mas essa tarefa, infelizmente, é mais árdua, e a margem de manobra do governo é cada vez menor.
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