O ESTADÃO - 09/08
Certos segmentos industriais, por serem muito concentrados em escala mundial, têm a tendência de atuar de maneira coordenada em licitações de grandes negócios, quase sempre de governos. O setor de equipamentos elétricos é um deles.
Há casos relatados de cartéis nesta área, para combinação prévia de preços, há décadas, em diversos países.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça criado para deliberar sobre práticas anticoncorrenciais, analisa um desses casos, em que o grupo alemão Siemens, mediante “acordo de leniência”, algo como denúncia premiada, fornece informações sobre sua atuação e de outras empresas numa encomenda de trens para o metrô de São Paulo, nas gestões dos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
A história, revelada pela “Folha de S.Paulo”, tem óbvias implicações político-eleitorais, e por isso já é usada por adversários do PSDB, PT à frente, para acusar os tucanos de terem montado em São Paulo um grande esquema de acumulação de caixa dois financiado por suposto superfaturamento naquela aquisição de trens.
O fato de Alckmin ser candidato à reeleição quando o PT prepara forte investida para mais uma vez tentar ocupar o Palácio dos Bandeirantes, e Serra poder se lançar contra Dilma por outra legenda, torna a investigação do Cade potencialmente radioativa para a oposição. O Conselho é acusado por tucanos de ser manipulado pelo governo de Dilma Rousseff para atingi-los. Acompanhemos.
Sem que ainda se saiba se a história ficará ou não circunscrita a São Paulo, o PT procura dar o troco nos tucanos por ter lideranças importantes condenadas como mensaleiros, tema explorado pela oposição. Assim como costuma lembrar que a tecnologia de lavagem de dinheiro usada em nível nacional pelos mensaleiros já havia sido testada pelo tucano Eduardo Azeredo, na tentativa frustrada de se reeleger governador de Minas. O STF julgará o caso.
Essas escaramuças atendem apenas a interesses do varejo político. Para a sociedade, importa saber a verdade, mediante apuração séria dos fatos, com o devido julgamento técnico dos denunciados, e, a depender das provas, sua condenação. Como se espera que, enfim, ocorra no processo do mensalão.
Se houve dolo na operação em São Paulo, tucanos precisarão, da mesma forma, ser investigados, denunciados, julgados e, se for o caso, condenados.
Quando partidos da situação e oposição se nivelam por baixo, é preciso que os organismos de Estado — Justiça, Ministério Público, Polícia — continuem a agir, e cada vez mais, para, juntos com o eleitorado, sanear a vida pública.
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